Origamis e histórias ajudam na inclusão de crianças cegas

Contadora de histórias com origamis. Eis o que Irene Tanabe, 39 anos, preenche nos campos “profissão” dos formulários. Diferente, interessante, inovador e… transformador, também, já que ela desenvolveu uma técnica para incluir crianças cegas em suas rodas de histórias.

Como fazer barquinho de papel e outras dobraduras para passar o tempo

Tudo começou há 11 anos, quando ela era voluntária num hospital infantil de São Paulo. Irene percebia, enquanto entretinha algumas crianças com suas narrativas, que meninos e meninas cegos ficavam de lado por não conseguir ler os livros nem interagir com as brincadeiras propostas pelos voluntários.

Um desses garotos chorava muito, e ela decidiu intervir. “Eu me lembro de que dobrei alguns origamis das histórias, coloquei nas mãos dessa criança e fui falando qual parte ele estava tateando _ patas, bico, focinho etc. Aos poucos, ele se acalmou e parou de chorar. Uma enfermeira até perguntou que remédio eu tinha dado a ele. Minha resposta: ‘Eu dei um remédio chamado histórias com origamis!”

A receita de Irene foi tão eficaz que ela passou a ser contratada também para contar histórias a crianças cegas em vários lugares: bibliotecas, unidades do Sesc e instituições que atendem pessoas com deficiência visual.

“Desenvolvi técnicas específicas a partir de minhas experiências. Fui aprendendo aos poucos, com os alunos, de qual papel eles gostavam mais e de que forma se sentiam mais confortáveis para aprender.”

As limitações impostas pela ausência da visão existem, mas a coordenação motora extremamente apurada que as pessoas cegas desenvolvem em seu dia a dia se transforma em aliada na hora de fazer de um pedacinho de papel uma obra de arte.

“Existem algumas dobras que uma pessoa com deficiência visual precisa compreender tateando o que eu dobrei primeiro. A comunicação também precisa ser eficiente. O resultado é muito relativo, não depende só da visão, mas de cada pessoa e como ela foi estimulada desde a primeira infância.

As histórias que fazem mais sucesso são as que envolvem animais que não fazem parte de sua realidade, como um pinguim. Tateando a dobradura, as crianças e também os adultos cegos passam a aprender mais sobre eles.

Outra que agrada todo mundo é a história “Os Bolos Mágicos”, em que a Irene coloca bolos de verdade dentro dos origamis que entrega ao público. “No meio da história, entrego origamis nas mãos das crianças, como se partes das histórias se materializassem, e elas pudessem tocá-las. Esses origamis têm texturas, aromas e movimentos”, conta ela. No caso dos bolos, têm até sabor!

A reação dos pequenos é de alegria e de, enfim, poder sentir as histórias. Irene exemplifica com o caso do David, garoto que ela conheceu no Centro de Apoio Pedagógico às Pessoas com Deficiência Visual de Garanhuns, no sertão de Pernambuco. Ele a levou pelas mãos para conhecer o espaço, tateava a parede e dizia onde estavam. “Ele me perguntou o que eu fazia. Quando eu contei, ele pediu: ‘Posso te dar um beijo?”

Por QSocial