Prorrogada exposição “De dentro para fora / De fora para dentro” no MASP

Seis artistas da geração que sacode ruas e galerias do mundo afora chegam ao MASP para uma exposição de grandes proporções.

Com uma centena de obras – inclusive seis murais que serão apagados no encerramento da mostra – os artistas Carlos Dias, Daniel Melim, Ramon Martins, Stephan Doitschinoff, Titi Freak e Zezão, propõem no Museu uma experiência com obras que interagem entre si e com o visitante.

“De dentro para fora / De fora para dentro”  tem curadoria de Mariana Martins, Baixo Ribeiro e Eduardo Saretta e fica em cartaz até 14 de fevereiro. A entrada custa R$ 15, mas é gratuita às terças-feiras.

_____________________________

A próxima mostra “Romantismo – A arte do entusiasmo”, estreia no dia 5 de fevereiro e fica em cartaz até o dia 8 de março. Saiba mais aqui

______________________________

Grandes paredes falsas e até mesmo o piso serão usados como base para dar a vida aos murais, instalações, telas e fotografias – a maioria produzidas no próprio MASP nas três semanas que antecedem a abertura ao público, resultando numa mostra exclusiva a partir deste diálogo com o espaço do Museu.

A exposição traz também os seis vídeos que narram a trajetória de cada artista, desde seus trabalhos pelas avenidas de São Paulo e do Brasil, passando por obras nas ruas e prédios de cidades da Europa, dos Estados Unidos e do Japão, até a absorção do gênero por grandes galerias de arte nas principais capitais culturais do planeta.

Confira alguns trabalhos dos artistas

Serviço Educativo

Assim como nas mostras compostas por obras do acervo e nas exposições temporárias realizadas pelo MASP, “De dentro para fora / De fora para Dentro” terá um programa educativo elaborado especialmente para atender públicos distintos: visitante, professores e alunos de escolas das redes pública e privada. As visitas orientadas são realizadas por uma equipe de profissionais especializada. Mais informações: 3251 5644  (ramal 2112).

Sobre os artistas

Carlos
Carlos Dias também assina ASA (Ao Seu Alcance), que sintetiza sua principal motivação criativa: o desejo de fazer uma arte ao mesmo tempo profunda e expressiva, que qualquer pessoa possa sentir e não necessariamente entender. O artista nasceu em Porto Alegre, em 1974, e morou muitos anos em São Paulo, onde participou ativamente de manifestações culturais juvenis nos anos oitenta e noventa: skate, punk, hardcore, graffiti, street art etc. Carlos construiu um mundo psicodélico, pop e expressionista, povoado por personagens surreais em cenários caóticos, que o levou a participar de diversas exposições, incluindo a última coletiva em Los Angeles, chamada São Paulo.

Carlos é um artista multimídia, que pesquisa suportes incomuns e o desenvolvimento das ferramentas para lidar com eles. Sua principal linguagem é a pintura em proposta estética suja, contemporânea, pop, energética e barulhenta, que impacta pelos sentidos e não pelo intelecto. No seu trabalho a instalação também é destaque. Sua gráfica é marcante e fortemente ligada à pintura gestual. Rabiscos, escorridos, manchas são elementos recorrentes nas suas pinturas, onde vez ou outra surge uma frase ou palavra escrita numa tipografia própria. A cor também é elemento essencial e surge associada à exploração de materiais inusitados, como o flúor, a purpurina ou a tinta metalizada. Os suportes podem variar muito, das telas aos paineis de madeira, passando por qualquer objeto encontrado e que possa ser pintado.

É uma expressividade barulhenta, que dialoga abertamente com a música do Againe, Polara, Caxabaxa e outras bandas formadas pelo artista ao logo das últimas décadas. Carlos é músico, compositor, performer e autor de alguns sucessos gravados por bandas pop, como CPM 22 ou Cansei de Ser Sexy.

Daniel
Daniel Melim nasceu em São Bernardo do Campo, São Paulo, em 1979. Pós graduou-se em Artes Visuais mas foi nas ruas do seu bairro que aprendeu a pintar, fazendo graffiti e intervenções urbanas, quase sempre associadas ao estêncil, técnica de pintura sobre máscaras com imagens vazadas.Trata-se de um pintor formalista, preocupado com a composição, com a distribuição das massas de cores, com a riqueza de texturas e com a impressão do processo em cada trabalho.

O imaginário pesquisado por Melim remete ao conforto de figuras retiradas de compêndios de clichês de publicidade antiga e simbolizam o mundo ingenuamente feliz, projetado pela propaganda. O artista transforma os clichês em estêncil e o aplica, às vezes com ironia, às vezes desprezando a qualidade simbólica da imagem, ficando apenas com a textura proporcionada pelas manchas de tinta, muros mal acabados e construções pobres. No caso das intervenções urbanas, as texturas já estão prontas para serem usadas. Pátinas, rabiscos, pinturas descascadas, tudo vai sendo apropriado pelo artista e transformado em composições. A intervenção salta do mural para a instalação, numa ocupação sofisticada do espaço e dos signos urbanos.

Daniel Melim teve sua primeira exposição individual na galeria Choque Cultural em 2006 e de lá passou pelo Museu Afro Brasil, representou o Brasil na Bienal de Valência, participou da coletiva The Cans Festival, promovida pelo artista britânico Banksy, em Londres, além da última SP-Arte.

Melim desenvolve o Projeto Limpão, um sitio especifico em proporção gigantesca, em São Bernardo do Campo. Trata-se da ocupação de todo um morro, com pinturas nas fachadas das casas, nos corredores e praças do lugar. As casas do bairro são construídas pelos próprios moradores, num típico exemplo da arquitetura urbana paulista, sem pertencer a um projeto urbanístico coerente. Esse trabalho de fôlego não tem data pra acabar: ele vai sendo construído aos poucos, em parceria com ‘o pessoal da capoeira’, nos fins de semana, com a anuência e admiração da comunidade.

Ramon
Ramon Martins nasceu em São Paulo, 1980. Bacharel em Artes Plásticas pela Escola Guignard de Minas Gerais, Ramon funde a experimentação do estúdio com a energia da rua. Faz graffiti, performance, instalações, esculturas, sitio especifico e pintura em telas. É nesse ofício, a pintura, que sintetiza seu estilo fluido, cheio de misturas técnicas surpreendentes.

Ramon Martins explora a técnica do estêncil, herdada do graffiti, passeia pela tinta acrílica, aquarela e têmpera, com grande repertório pictórico. Sua obra revela sensualidade, um acento pop-psicodélico, com influência de arte africana e indiana.

Recentemente, Ramon Martins participou do projeto R.U.A – Reflexo on Urban Art – Lines, Colours and Forms of Brazilian Urban Art, em Rotterdam, ao lado de artistas brasileiros como Onio, Speto e Onesto, onde pintaram grandes murais nas ruas da cidade.

Stephan
Stephan Doitschinoff, conhecido como Calma, nasceu em São Paulo, em 1977. É um artista autodidata e sua formação foi muito influenciada pela convivência com os mais diversos tipos de crenças e rituais religiosos. Além de filho de pastor evangélico, neto e bisneto de espíritas, Stephan conviveu no bairro em que passou sua infância e juventude tanto em um centro Hare Chrishna como em um terreiro de umbanda.  Já adolescente, Stephan envolveu-se com a cultura pop, do skate aos movimentos punk e hardcore de São Paulo. Elaborava capas de discos de bandas e trabalhava como assistente do cenógrafo Zé Carratú, pintando cenários de grandes shows de rock dos anos 1990.

Por meio de desenhos, pinturas, murais, esculturas e instalações, Stephan cria um universo de onde emergem inúmeras questões simbólicas e existenciais, como decadência, redenção, culpa, paz, salvação e transcendência. Tudo se conecta numa composição que leva à reflexão sobre o que é considerado arte e o que é considerado sagrado.

A partir de 2002, Stephan passa a interagir e intervir na cidade por meio da pintura e da aplicação de pôsteres, adesivos e estênceis. Seu estilo se destaca na cena da nova arte urbana, gerando convites para participar de exposições em diferentes cidades do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa e uma residência artística na Inglaterra.

Em 2005, parte para o desenvolvimento de seu mais audacioso projeto artístico: o de pintar uma cidade inteira. Compondo com as histórias, as crenças e a realidade local da cidade de Lençóis (BA) e dos povoados dos arredores, Stephan realizou intervenções na região, onde morou de 2005 a 2008.  As fachadas dos casebres, a igreja e até mesmo o cemitério formaram um conjunto pictórico de dimensões grandiosas. Essa grande instalação urbana, que envolveu toda a população da cidade, é um trabalho de fôlego que desenvolve importantes questões sobre as dimensões político-sociais da arte pública. Esse trabalho foi documentado no filme Temporal, produzido pela Movie Art, e em sua monografia Calma. The Art of Stephan Doitschinof, publicada pela editora alemã Gestalten.

Titi
Hamilton Yokota aka Titi Freak nasceu em 1974. É paulista de ascendência nipônica e mistura o espírito espontâneo dos brasileiros à estética disciplinada dos japoneses. Yokota chegou aos estúdios de Maurício de Souza, produtor brasileiro de inúmeros best sellers dos quadrinhos, ainda adolescente. Desde então o senso de estilo, a habilidade como ilustrador e o profissionalismo adquiridos o mantiveram em atividade, trabalhando como designer gráfico e ilustrador.

Titi Freak conheceu o graffiti em 1995. Nas ruas de São Paulo, pôde integrar a excelência técnica do seu desenho ao espírito de improvisação que a cidade impõe. A troca foi justa: Titi soltou o traço enquanto o graffiti paulistano ficou mais sofisticado.

Titi Freak é um artista que se deixa influenciar pelo imaginário da moda, dos quadrinhos e mangás, da low brow art e da cultura japonesa em geral, mas também presta atenção em Matisse, Picasso e Portinari, alguns de seus ídolos na pintura. Essa mistura de referências, bem contemporânea e pop, confere a sua obra carisma e empatia com o público de várias idades e procedências, ao mesmo tempo em que explora os vários suportes tão díspares quanto os gigantescos murais públicos e os pequenos desenhos em miniatura.

Na verdade, o artista aproveita muito bem as diferenças de linguagem, escala e tratamento que imprime às suas obras, na intenção de envolver a audiência e provocar fortes emoções. Depois de três meses no Japão, Titi voltou ao Brasil para a exposição AmorInsistente, na galeria Acervo da Choque. Antes disso, lançou o livre FREAK, pela editora ZY, em que apresenta imagens de sua trajetória artística.

Zezão
Zezão é um artista intuitivo e autodidata, tem um trabalho artístico profundo e complexo, com implicações estético-político-sociais. Faz uma arte popular e carismática, vinda da simplicidade com que relaciona o estético e o humano, com força e vibração, manipulando e misturando suportes como instalação, sitio especifico, fotografia, vídeo, performance e pintura.

Zezão nasceu em São Paulo, em 1971, de ascendência portuguesa.  A adolescência vivida no ambiente do skate, punk e pichação foi marcada pelo trabalho duro. Foi trabalhador rural em Portugal, motorista de caminhão e motoboy em São Paulo.

A paisagem urbana, de onde Zezão extrai sua estética, é a de uma São Paulo grande, desleixada com seu espaço público, com seus rios e com o seu lixo. Zezão vai fundo na exploração dessas mazelas e extrai preciosidades simbólicas. Entra na cena, escolhe a locação, se relaciona com o morador da rua. Ele sabe que sua performance precisa agradar aos que ali habitam, pois sua arte é feita para elas, num primeiro momento. Zezão começou a pintar num momento de depressão pessoal e profissional. Saiu das ruas e se enfiou no subsolo dos canais de água pluvial. Foi para um lugar povoado por ratos e baratas e, ali, descobriu os cenários que se tornariam sua marca registrada.

Em sua trajetória, Zezão participou de exposições individuais e coletivas, como a Zezão Fotógrafo, na galeria Choque Cultural, São Paulo, na Scion Gallery, em Los Angeles, e Une Estivalle, na LJ Gllery, em Paris, e residiu e participou do evento mundial de graffiti Namefest, em Praga.

Por Redação