1 em cada 10 mulheres em idade fértil são afetadas por esta doença

Falta de conhecimento pode ser a principal barreira para o diagnóstico precoce, alerta especialista

Por Caroline Vale em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
18/03/2025 19:32

Março Amarelo é o mês de conscientização sobre a endometriose, condição que afeta uma em cada dez mulheres em idade fértil no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) reforça a importância do diagnóstico precoce, já que a doença pode causar dores intensas e dificuldades para engravidar. 

O Dr. Ricardo Quintairos, presidente da Comissão Nacional Especializada em Endometriose da FEBRASGO, destaca que o principal desafio para o diagnóstico precoce é o acesso à informação.

Ele explica que é fundamental informar sobre os tipos de endometriose, evolução e sintomas, além de preparar os médicos para o diagnóstico. “O desconhecimento sobre a endometriose, tanto por parte da população quanto da classe médica, faz com que pacientes passem de médico em médico, sem que alguém considere a possibilidade de uma doença tão prevalente como a endometriose pélvica”, destaca.

Endometriose é uma condição na qual o endométrio, tecido que reveste internamente o útero, cresce em regiões fora do útero, como ovários, trompas e cavidade pélvica.
Endometriose é uma condição na qual o endométrio, tecido que reveste internamente o útero, cresce em regiões fora do útero, como ovários, trompas e cavidade pélvica. - Design Cells/istock

Atenção aos sinais de endometriose 

O especialista reforça que é importante lembrar que sentir dor intensa durante o ciclo menstrual não é normal, e que uma jovem, que sofre com cólicas tão fortes que a impedem de ir à escola ou realizar suas atividades diárias, precisa ser encaminhada para investigação.

Sobre os sintomas, o Dr. Ricardo Quintairos explica que a endometriose é conhecida como a doença dos ‘6 Ds’: dispareunia (dor na relação sexual), disquesia (dor na defecação), dismenorréia (dor menstruacional), dificuldade de gestar (dificuldade de gestação), infertilidade e disúria (dificuldade para urinar).

Além disso, a dor pélvica crônica, que ocorre fora do ciclo menstrual, também é um sinal importante. Se a paciente apresentar qualquer um desses sintomas de forma recorrente ou persistente, é fundamental considerar rapidamente o diagnóstico de endometriose.

“Isso significa que o ginecologista ou até mesmo o clínico geral deve realizar uma avaliação. A análise pode ser realizada, por exemplo, por meio de uma ressonância magnética ou ultrassonografia com preparo adequado para mulheres que não são virgens. Além disso, pode-se utilizar a ultrassonografia transvaginal, sempre com preparo intestinal, para visualizar as lesões, sendo essa abordagem particularmente indicada para mulheres que não são virgens”, ressalta.

A doença pode ser subdiagnosticada em mulheres mais jovens ou naquelas que ainda não têm filhos. Muitas vezes, a paciente apresenta poucos sintomas, o que gera uma idiossincrasia entre a gravidade da doença e a intensidade dos sintomas. Ou seja, algumas mulheres com casos graves podem não apresentar sintomas significativos, enquanto outras, com formas mais leves, têm sintomas intensos.

Essa incompatibilidade entre a doença e os sintomas pode levar ao subdiagnóstico, com pacientes assintomáticas ou com sintomas discretos não sendo corretamente identificadas. 

Diagnóstico e tratamento

No entanto, se não for possível fazer um diagnóstico imediato, é possível começar o tratamento de uma paciente jovem que apresenta ciclos menstruais intensos há mais de dois anos, período após o qual as cartilagens já começam a se fechar.

Nessas situações, o tratamento pode ser iniciado de forma empírica — ou seja, sem a comprovação definitiva da doença — com o objetivo de aliviar a dor e impedir o avanço da condição. Atualmente, as sociedades médicas aceitam o tratamento empírico, enquanto, no passado, era necessário aguardar a confirmação por meio de biópsia.

A abordagem moderna entende que, diante de dor incapacitante e recorrente, a paciente pode iniciar o tratamento mesmo sem diagnóstico definitivo, sem a necessidade imediata de uma equipe especializada e multidisciplinar. 

“Temos trabalhado intensamente no combate ao diagnóstico tardio, juntamente ao grupo de mulheres portadoras de endometriose que também tem se empenhado em esclarecer e ensinar que a doença começa precocemente e pode evoluir, muitas vezes, de forma rápida. A ignorância, no sentido de desconhecimento, é um grande desafio. E, por conta disso, não conseguimos identificar a doença de forma precoce, o que dificulta o tratamento adequado”, afirma o médico. 

O que mudou nos últimos anos?

O especialista declara que apesar da falta de informação, o conhecimento sobre a endometriose tem melhorado consideravelmente nos últimos anos com a divulgação de informações das sociedades médicas à população.

O Brasil, hoje, é considerado um dos melhores países do mundo para diagnóstico de endometriose, de acordo com o médico.

“Como resultado, pessoas que antes não tinham diagnóstico agora estão sendo corretamente identificadas, e médicos que antes não estavam preparados para realizar o diagnóstico agora possuem mais recursos e conhecimento. Isso tem levado a um aumento nos diagnósticos, especialmente porque as mulheres hoje têm menos filhos do que no passado, o que significa que menstruam por mais tempo. Com isso, há uma maior prevalência de endometriose, uma vez que a condição tem uma forte relação com fatores clínicos e genéticos”, finaliza.