A condição de saúde mental que aumenta o risco de morte prematura

Pesquisa mostra que pessoas com transtorno bipolar têm até seis vezes mais risco de morte prematura, mais do que envelhecer ou fumar

10/06/2025 12:03

Pesquisadores estudaram o impacto oculto do transtorno bipolar na longevidade
Pesquisadores estudaram o impacto oculto do transtorno bipolar na longevidade - AndreyPopov/DepositPhotos

Pessoas diagnosticadas com transtorno bipolar têm de quatro a seis vezes mais probabilidade de morrer precocemente do que aquelas sem a doença, segundo um estudo liderado pela Universidade de Michigan.

A pesquisa analisou dados de um grande estudo de longo prazo e registros médicos anônimos, revelando um dado alarmante: o impacto da bipolaridade na expectativa de vida supera até riscos associados ao envelhecimento ou ao tabagismo.

Para efeito de comparação, o risco de morte de alguém com mais de 60 anos foi 2,3 vezes maior, e o de pessoas com histórico de tabagismo foi 2,5 vezes maior. Já quem convive com o transtorno bipolar enfrenta um risco até seis vezes maior de mortalidade precoce.

O que é transtorno bipolar?

O transtorno bipolar é uma condição de saúde mental caracterizada por oscilações intensas de humor, energia e níveis de atividade. Os episódios são divididos entre:

  • Fase maníaca ou hipomaníaca: marcada por euforia, impulsividade, agitação e comportamentos de risco.
  • Fase depressiva: dominada por tristeza profunda, desânimo, isolamento, perda de interesse e, muitas vezes, pensamentos suicidas.

Essas oscilações podem ter consequências graves tanto no bem-estar mental quanto na saúde física, impactando diretamente a longevidade.

Por que o risco de morte é tão alto?

O estudo revelou que a bipolaridade encurta a vida não apenas pelos riscos diretos associados ao suicídio, mas também por aumentar a vulnerabilidade a outros problemas de saúde.

Durante episódios maníacos, há maior risco de acidentes, comportamentos imprudentes e lesões. Já na fase depressiva, negligência com a própria saúde, má alimentação, sedentarismo, abuso de substâncias e risco elevado de suicídio são fatores que contribuem para o aumento da mortalidade.

Além disso, o transtorno bipolar está associado a uma maior incidência de doenças cardiovasculares, metabólicas e hepáticas, que acabam figurando como causas oficiais de morte, mascarando o papel da doença psiquiátrica.

Uma lacuna preocupante na saúde pública

O relatório do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) de 2021 não listava nenhuma doença mental entre as principais causas de morte, justamente porque essas condições aparecem indiretamente — como quando um infarto ou um AVC ocorre, mas tem como origem um quadro de negligência crônica com a saúde causada por episódios depressivos, ou acidentes provocados pela impulsividade da fase maníaca.

Como explica Anastasia Yocum, autora do estudo: “O transtorno bipolar nunca será listado na certidão de óbito como a principal causa de morte, mas pode ser um fator imediato ou secundário que contribui diretamente para ela.”

O estudo reforça a necessidade de que pessoas com transtorno bipolar recebam acompanhamento médico e psicológico contínuo, além de monitoramento dos fatores de risco físicos e emocionais. O controle adequado dos sintomas, combinado com um estilo de vida saudável, pode reduzir significativamente esses riscos e ajudar a preservar a qualidade e a expectativa de vida.