A menstruação estava sincronizada com a lua até 2010. Por que os smartphones podem ter cortado essa conexão
Pesquisa mostra que a luz azul das telas parece ter interrompido essa sincronia
Por séculos, mulheres perceberam uma ligação entre seus ciclos menstruais e as fases da lua, e a ciência confirmou que ela era real. Pesquisadores analisaram 176 registros menstruais ao longo de quase 100 anos e encontraram um padrão impressionante: antes de 2010, os ciclos femininos tendiam a se alinhar com a lua cheia ou a lua nova de forma consistente, embora essa sincronia fosse temporária e se perdesse após alguns meses ou anos.
A partir de 2010, essa sincronização praticamente desapareceu. O marco coincide com a popularização das telas de LED e dos smartphones, que passaram a emitir luz azul constantemente. Esse tipo de luz engana o relógio biológico humano, reduzindo a capacidade de o corpo se alinhar com os ritmos naturais da noite. Mesmo assim, a pesquisa mostrou que em janeiro, quando a Terra está mais próxima do Sol e as forças gravitacionais são mais fortes, a sincronia reaparece.
Um “relógio circalunar” no corpo feminino
Os cientistas chamam essa conexão de “relógio circalunar”, que funciona de forma semelhante ao relógio circadiano, responsável pelos ciclos diários de sono e vigília. Esse relógio lunar só funciona quando o ciclo menstrual da mulher está entre 26 e 36 dias, fora desse intervalo, a sincronia não acontece. À medida que as mulheres envelhecem e seus ciclos se tornam mais curtos, a conexão com a lua tende a enfraquecer naturalmente.

O estudo revela que não apenas a luz da lua, mas também as forças gravitacionais exercem influência sobre os ciclos menstruais. Essa descoberta explica por que a sincronização é mais forte em períodos de marés altas e em janeiro, quando o alinhamento Sol–Terra–Lua está no ponto máximo.
Poluição luminosa e efeitos para a saúde
Pesquisadores também identificaram que a poluição luminosa influencia o fenômeno. Regiões com céus mais escuros apresentaram maior correlação entre menstruação e fases da lua, enquanto áreas urbanizadas, como o norte da Itália, mostraram menor sincronia. A descoberta levanta preocupações: se a luz artificial pode alterar ciclos reprodutivos que evoluíram por milênios, outros processos biológicos também podem estar sendo impactados.
Embora a conexão entre menstruação e lua não tenha desaparecido completamente, ela se tornou rara e depende de condições específicas para ocorrer.
A pesquisa sugere que reduzir a exposição à luz azul à noite, com o uso de filtros, modos noturnos e menos tempo de tela, pode ajudar a restaurar, ao menos parcialmente, essa antiga sincronia.