‘Acharam que era dengo’, diz mãe de garoto com câncer raro

19/04/2017 13:43

Maria Osana de Amorim Ferreira é mãe de Kaíque. Aos seis anos o garoto acordou um dia e foi engatinhando até ela. “Perguntei o que era e ele disse que não conseguia ficar de pé. Achei que a perna dele estava “dormindo”, o coloquei de pé, amparando entre minhas pernas, mas ele estava fraquejando, apesar de dizer que não doía”, conta em entrevista ao Catraquinha.

Osana levou o filho ao médico, mas lhe disseram que isso era “coisa da cabeça dele”, mesmo ela mostrando que o filho não tinha força nos membros inferiores. Entre esse dia, em junho de 2015, e o diagnóstico correto, em dezembro do mesmo ano, foram diversas consultas, em hospitais diferentes.

O menino teve ainda sangramento no nariz e inchaço nos olhos. A cada novo sintoma, um tratamento que ajudava a amenizar o problema, mas logo outro aparecia.

Além de não encontrar a causa real dos problemas físicos que Kaíque apresentava, alguns médicos diziam que o garoto estava com dengo, frescura e inventava coisas para não ir à escola. A mãe chegou a ser questionada por uma médica se havia agredido o garoto, quando uma mancha apareceu na região do rosto da criança.

Até que uma enfermeira indicou a Osana que fosse ao GRAACC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer). Ela diz que não sabe como a funcionária do hospital soube o que o menino tinha. “Foi um anjo que apareceu ali, ela falou que ia me dar o endereço para eu ir no hospital e que lá tinha o procedimento para o meu filho”, lembra.

Em seis meses de consultas em diferentes hospitais, menino recebeu vários diagnósticos equivocados
Em seis meses de consultas em diferentes hospitais, menino recebeu vários diagnósticos equivocados

A mãe conta que estava preocupada, mas não sabia que era algo tão sério, pois não tinha casos de câncer na família. No GRAAC o garoto foi atendido devidamente e diagnosticado com linfoma de Burkitt.

“A doença é uma neoplasia maligna, descrita pelo cirurgião inglês Denis Burkitt, e se caracteriza por ser o tipo de tumor que mais cresce, dobrando o nível de células infectadas entre 24h e 48h”, disse o Dr. Flávio Luisi, especialista do setor de Oncopediatria do GRAACC ao Catraquinha.

O médico informa ainda que crianças de cinco a oito anos de idade são os mais acometidos por esse tipo de câncer e a característica principal é o crescimento da área comprometida.

“Geralmente afeta a região do abdômen, podendo também atingir outras partes do corpo como amídalas ou adenoide (que se localizam na rinofaringe, região situada atrás das cavidades nasais). No caso de Kaíque o linfoma atingiu a órbita ocular, o que é mais raro”, segundo Luisi.

Como o câncer de Kaíque não tinha atingido a medula, os médicos realizaram um autotransplante. Essa técnica consiste em coletar as células da medula ou mesmo as “células mãe” do sangue.

Depois é feito o tratamento no paciente. “Caso não haja resposta, porque a doença é muito resistente, aí usamos as células recolhidas antes do tratamento inicial e a reinserimos”, explica o médico.

Luisi informa ainda que casos como o do garoto são realmente difíceis de diagnosticar “Sim, no mundo inteiro, não só no Brasil, pois é uma doença muito rara e que apresenta outros sintomas. Nós damos cursos, ensinamos, mas a gente [GRAAC] conhece, porque concentramos o atendimento a esse tipo de caso”.

No final de 2016 Kaíque terminou o tratamento. Hoje, aos sete anos, ele deve fazer o acompanhamento mensal, para saber como estão as plaquetas e se os remédios continuam fazendo efeito. A alta definitiva é esperada para dezembro deste ano.

“Algo que falo para as mães é que se o seu filho é bagunceiro, dê graças a Deus! O meu era bagunceiro e eu brigava com ele, mas o dia que ele parou eu sabia que algo errado tinha. Não demore (para buscar tratamento), pois às vezes não dá pra resolver”, diz Osana.