Acido fólico pode ser a chave para proteger bebês do efeito tóxico do chumbo e do autismo

Esse tipo suplemento recomendado antes e durante os três primeiros meses da gestação é conhecido por prevenir problemas congênitos no bebê

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
28/10/2024 07:40 / Atualizado em 11/11/2024 11:28

Um estudo da Universidade Simon Fraser, no Canadá, revelou que a suplementação de ácido fólico durante a gestação pode desempenhar um papel importante na proteção do bebê contra os efeitos neurotóxicos do chumbo e no possível desenvolvimento de autismo.

O estudo indica que uma ingestão diária de pelo menos 0,4 miligramas de ácido fólico pode enfraquecer os efeitos neurotóxicos do chumbo.

Os resultados foram publicados em 16 de outubro no periódico Environmental Health Perspectives.

Este é o primeiro estudo a mostrar que a suplementação adequada de ácido fólico pode reduzir o risco de autismo associado à exposição ao chumbo durante a gravidez.

O impacto do chumbo na saúde neurológica

O chumbo é uma substância tóxica que pode ser encontrada em diversas fontes, como água contaminada, solo, produtos antigos à base de chumbo e poluição industrial.

A exposição a altos níveis de chumbo durante a gravidez pode causar danos graves ao desenvolvimento neurológico do feto, resultando em problemas cognitivos, distúrbios de comportamento e até aumentar o risco de autismo.

Estudo sugere que a suplementação adequada de ácido fólico pode reduzir o risco de autismo associado à exposição ao chumbo
Estudo sugere que a suplementação adequada de ácido fólico pode reduzir o risco de autismo associado à exposição ao chumbo - BlackJack3D/istock

Detalhes do estudo

As descobertas do estudo atual revelaram que a conexão entre os níveis de chumbo no sangue e comportamentos autistas em crianças foi mais forte em mulheres grávidas que consumiram menos de 0,4 miligramas de suplementação de ácido fólico por dia.

A equipe usou dados coletados de 2008 a 2011 de 2.000 mulheres canadenses. A equipe mediu os níveis de chumbo no sangue coletado durante o primeiro e o terceiro trimestres e entrevistou os participantes para quantificar sua suplementação de ácido fólico.

As crianças nascidas neste estudo foram avaliadas aos três ou quatro anos de idade usando a Social Responsiveness Scale (SRS), uma ferramenta comum relatada por cuidadores que documenta comportamentos autistas em crianças pequenas.

No entanto, os pesquisadores também descobriram que a suplementação elevada de ácido fólico (> 1,0 miligrama por dia) não pareceu ter nenhum benefício extra para mitigar os efeitos neurotóxicos da exposição ao chumbo.

O papel do ácido fólico

O ácido fólico é uma forma sintética da vitamina B9, essencial para diversas funções no organismo, incluindo a produção de DNA, a formação de células sanguíneas e o crescimento celular.

Na natureza, ele é encontrado em alimentos como vegetais de folhas verdes, feijões, ovos e frutas cítricas, na forma de folato. No entanto, o ácido fólico é a versão suplementar mais utilizada devido à sua alta biodisponibilidade.

A suplementação de folato e o ácido fólico durante a gravidez tem inúmeros benefícios para a saúde infantil, especialmente para o desenvolvimento do cérebro.

Há muito tempo, esses nutrientes são amplamente recomendados para mulheres que querem engravidar e gestantes nos três primeiros meses de  gravidez. 

O consumo de folato desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do cérebro e previne malformações no tubo neural, como espinha bífida e anencefalia, que afetam o cérebro e a medula espinhal do bebê.

Ele contribui para o crescimento adequado do sistema nervoso central do feto, garantindo o desenvolvimento correto das células nervosas.

Estudos anteriores descobriram que as associações entre autismo e exposição a pesticidas, poluentes do ar e ftalatos (produtos químicos comumente encontrados em plásticos macios) durante a gravidez tendem a ser mais fortes quando a suplementação de ácido fólico é baixa.

Apesar das evidências do estudo atual, os pesquisadores canadenses reforçam que são necessárias mais pesquisas para explorar essa relação entre exposição ao chumbo e consumo de folato.