Agitação ao despertar pode indicar início de demência
Estudo aponta que irritabilidade matinal pode ser um dos primeiros sinais da doença neurodegenerativa
A demência é frequentemente associada à perda de memória, mas há outros indícios que podem surgir antes das falhas cognitivas se tornarem evidentes. Um deles pode ser notado logo ao acordar: a agitação matinal. Esse comportamento, muitas vezes ignorado ou atribuído a fatores externos como estresse ou má qualidade do sono, pode ser um sinal precoce de alterações neurológicas.
Um estudo publicado no “International Journal of Geriatric Psychiatry” analisou o comportamento de 110 pacientes com mais de 60 anos, residentes em casas de repouso, e identificou que a agitação era ligeiramente mais comum pela manhã entre aqueles diagnosticados com demência. A pesquisa dividiu os participantes em três grupos, conforme o horário em que os episódios de agitação eram mais frequentes: manhã, noite ou nenhum pico específico.

Os resultados sugerem que a irritabilidade ao despertar pode estar relacionada às mudanças físicas no cérebro causadas pela demência. Segundo a Alzheimer’s Society, a agitação pode ocorrer por diversos motivos: desde a incapacidade de realizar tarefas simples até o desconforto causado por ruídos ou alterações no ambiente. Em muitos casos, a pessoa sente-se inquieta sem saber exatamente o motivo.
Esse tipo de comportamento pode ser confundido com reações comuns ao envelhecimento ou com efeitos colaterais de medicamentos. No entanto, quando recorrente, especialmente em pessoas com histórico familiar de demência ou outros fatores de risco, merece atenção e acompanhamento médico.
O que caracteriza a agitação matinal
A agitação matinal pode se manifestar de diferentes formas. Algumas pessoas acordam com irritabilidade, inquietação ou dificuldade para se orientar no tempo e no espaço. Outras apresentam comportamentos repetitivos, como andar de um lado para o outro, mexer constantemente nas roupas ou objetos, ou demonstrar impaciência sem motivo aparente.
Esses sinais podem ser sutis no início, mas tendem a se intensificar com o avanço da doença. A confusão ao acordar, por exemplo, pode ser um reflexo da desorganização dos ciclos de sono e vigília, comum em pessoas com demência. Além disso, alterações no funcionamento do sistema nervoso central podem afetar a regulação emocional, tornando o despertar um momento de maior vulnerabilidade.
É importante diferenciar a agitação ocasional, que pode ocorrer por motivos diversos, da agitação persistente e sem causa aparente. Quando esse comportamento se repete por vários dias e interfere na rotina da pessoa, é recomendável buscar orientação médica. O diagnóstico precoce pode permitir intervenções que retardem a progressão da doença e melhorem a qualidade de vida.
A observação cuidadosa por parte de familiares e cuidadores é essencial. Muitas vezes, são eles que percebem as mudanças comportamentais antes mesmo que o próprio paciente se dê conta. Registrar os episódios e suas características pode ajudar os profissionais de saúde a identificar padrões e tomar decisões mais assertivas.
Como agir diante dos primeiros sinais
Ao notar sinais de agitação matinal recorrente, o primeiro passo é conversar com um médico, preferencialmente um geriatra ou neurologista. O profissional poderá avaliar o histórico clínico, realizar exames e, se necessário, encaminhar para uma avaliação neuropsicológica. Essa abordagem permite identificar alterações cognitivas e comportamentais que podem indicar o início da demência.
Além da avaliação médica, é importante considerar o ambiente em que a pessoa vive. Ruídos excessivos, iluminação inadequada ou mudanças na rotina podem contribuir para a agitação. Criar um ambiente tranquilo, com horários regulares e estímulos adequados, pode ajudar a reduzir os episódios.
A participação de familiares e cuidadores é fundamental nesse processo. Eles devem ser orientados sobre como lidar com a agitação, evitando confrontos e buscando estratégias de acolhimento. Em alguns casos, o uso de medicamentos pode ser indicado, mas sempre com acompanhamento médico rigoroso.
A agitação também pode estar relacionada a outras condições, como depressão, ansiedade ou efeitos colaterais de remédios. Por isso, é essencial uma avaliação ampla, que considere todos os aspectos da saúde física e mental do paciente. O tratamento deve ser individualizado e multidisciplinar, envolvendo médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e outros profissionais.
Prevenção e cuidados com a saúde cerebral
Embora nem todos os casos de agitação matinal estejam relacionados à demência, adotar hábitos saudáveis pode contribuir para a prevenção da doença. A manutenção de uma alimentação equilibrada, rica em frutas, vegetais, grãos integrais e gorduras saudáveis, como o azeite de oliva, é recomendada por especialistas.
A prática regular de atividades físicas também é essencial. Exercícios aeróbicos, caminhadas e atividades que estimulem o equilíbrio e a coordenação ajudam a manter a circulação sanguínea e a saúde cerebral. Além disso, manter a mente ativa por meio de leitura, jogos de raciocínio e aprendizado de novas habilidades pode fortalecer as conexões neurais.
Outro fator importante é o controle de doenças cardiovasculares, como hipertensão, diabetes e colesterol alto. Essas condições afetam diretamente o funcionamento cerebral e aumentam o risco de demência. Evitar o tabagismo, limitar o consumo de álcool e manter boas relações sociais também são medidas preventivas eficazes.
Por fim, é fundamental valorizar o sono. Dormir bem é essencial para a consolidação da memória e para o equilíbrio emocional. Distúrbios do sono, como a síndrome das pernas inquietas — que causa desconforto e necessidade de movimentar as pernas, especialmente à noite — podem interferir na qualidade do descanso e contribuir para a agitação ao despertar.