O que acontece com o corpo ao retirar o açúcar da dieta? Médica especialista faz alerta
Endocrinologista detalha o que acontece no corpo ao cortar açúcar e adverte para os riscos da restrição radical
Cortar o açúcar da alimentação tem se tornado um desafio popular — seja por promessas de mais saúde, melhora na pele ou até mais disposição. Mas o que realmente acontece com o corpo quando se elimina esse ingrediente por completo? Em entrevista exclusiva à Catraca Livre, a endocrinologista Dra. Andressa Heimbecher esclarece os principais efeitos da retirada do açúcar, os possíveis benefícios e os riscos escondidos por trás de decisões radicais.
“O açúcar refinado, hoje, a gente orienta, de praxe, os pacientes a reduzirem e até eliminarem, principalmente os pacientes que têm resistência à insulina e diabetes”, afirma.
Segundo ela, o principal benefício da retirada está na redução da produção de insulina em excesso, o que pode ajudar a evitar o acúmulo de gordura abdominal.
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O perigo da retirada brusca: compulsão e desequilíbrio
No entanto, a médica faz um alerta: “A grande questão é que 95% do combustível cerebral é glicose. Então, uma retirada súbita, sem orientação médica e nutricional, pode levar a episódios compulsivos.”
O problema, segundo ela, é que as pessoas costumam compensar a ausência do doce com outros alimentos ricos em carboidratos, como pães e massas, que também se convertem em glicose no organismo.

Sintomas físicos e adaptação do corpo
A retirada repentina do açúcar pode provocar sintomas físicos e emocionais. “Às vezes a pessoa fica mais irritada, mais cansada, com dor de cabeça, sensação de fraqueza”, descreve.
Isso acontece porque o corpo perde uma fonte de energia de rápida absorção. “Geralmente, essa adaptação dura 72 horas, até o corpo passar a utilizar a gordura como fonte de energia”, explica.
Esse processo, chamado de cetose, é marcado pela produção de corpos cetônicos, que indicam que o corpo deixou de usar glicose e está queimando gordura.
Benefícios reais: peso, hormônios e até prevenção de doenças
Quando feita com equilíbrio, a mudança pode trazer ganhos metabólicos importantes. “A pessoa reduziu o açúcar, tirou, e não fez falta pra ela. Achou substitutos, como tâmara, tirou ultraprocessados… com certeza vai ter benefício”, afirma.
Entre os efeitos positivos, estão redução de peso, melhora de marcadores hormonais e até menor risco para certos tipos de câncer: “Desde a redução de 13 tipos de cânceres, como câncer de endométrio, câncer de mama, até redução de diabetes, colesterol, síndrome metabólica, risco de infarto, de derrame…”
Pele mais limpa e sono melhor
Na pele, os reflexos também podem ser visíveis. “Para o tratamento de acne é muito legal, porque o açúcar é inflamatório”, diz.
Segundo ela, o sebo inflamatório favorece a proliferação de bactérias na pele, o que agrava quadros de acne. Além disso, estudos já associam a retirada de industrializados e a adesão a dietas como a mediterrânea à melhora no sono, no humor e na qualidade de vida.

O risco emocional: quando o açúcar é um alívio
Mas nem tudo são flores. Há riscos quando a mudança é feita sem preparo ou acompanhamento.
“A preocupação maior é: ‘Ai, a pessoa gosta muito de um chocolate no meio da tarde e, de repente, ela para de comer isso.’ Açúcar libera dopamina… Então você tira um pilar importante de geração de prazer pro cérebro.”
Para ela, isso pode desencadear comportamentos compulsivos como compras, álcool ou jogos: “A restrição leva à compulsão, né?”
Reduzir, não cortar: a estratégia da moderação
Dra. Andressa prefere a moderação. “Eu não gosto de tirar, eu gosto de reduzir”, afirma.
Ela reconhece que o açúcar também tem papel afetivo. “Quantas vezes um pote de sorvete não evitou que uma pessoa pulasse da janela por um fim de relacionamento, por exemplo?”, brinca.
Açúcar das frutas não é vilão
Ela também reforça que há diferenças importantes entre eliminar açúcares refinados e evitar qualquer forma de açúcar. “A fruta é saudável. O grande foco aqui é a gente reduzir os refinados.”
O mal-entendido, segundo ela, veio da frutose do xarope de milho presente em alimentos industrializados nos Estados Unidos, que é diferente da frutose natural das frutas.

Adoçantes: solução ou armadilha intestinal?
Sobre adoçantes, a endocrinologista faz um alerta. “A gente tem estudos controversos mostrando que os adoçantes podem alterar a flora intestinal.”
Por isso, ela recomenda o uso como ponte. “A pessoa toma Coca normal todo dia? Troca pela Coca Zero e depois vai trocando gradualmente com acompanhamento nutricional.”
Estratégias práticas para reduzir o açúcar
Para quem deseja reduzir o consumo de forma saudável, a médica sugere uma reeducação alimentar baseada na compreensão do valor emocional da comida conforto.
Entre as estratégias estão:
- a “política das metades” (comer só metade do doce);
- combinar alimentos com frutas ricas em fibras;
- radicalizar por um curto período para quebrar o vício;
- praticar exercícios físicos para liberar endorfinas;
- e, quando for consumir um doce, escolher opções menores e de melhor qualidade.
“Comida também faz parte da mesa como padrão de existência, né? E a gente, como ser humano, precisa considerar isso também.”