Atriz Cristiana Oliveira relata ter sofrido com dismorfia; entenda a condição que afeta milhões no Brasil
O transtorno afeta mais de 4 milhões de pessoas na faixa etária de 15 a 30 anos
A atriz Cristiana Oliveira relatou recentemente sua luta com a dismorfia corporal, em entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil. “Eu comecei a perceber que isso tudo estava me fazendo refém de um corpo que eu própria não enxergava no espelho, a tal da dismorfia. Eu me olhava no espelho e sempre achava que podia perder um pouco mais. Eu falava ‘será que na televisão que engorda de 6 a 8 kg eu vou estar suficientemente magra?’ Eu passei por tudo isso na minha vida, tudo por aceitação”, desabafou.
A fala da atriz a ecoa uma realidade que afeta milhões de brasileiros, especialmente entre os 15 e 30 anos: a distorção da autoimagem como forma de sofrimento silencioso e busca incessante por aceitação.
Conhecido clinicamente como transtorno dismórfico corporal, esse quadro leva a pessoa a enxergar defeitos inexistentes ou mínimos em sua aparência.
A cirurgiã plástica Dra. Heloise Manfrim, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), alerta: “Essa é uma doença tão comum e que acontece com tanta frequência que mais de 4 milhões de pessoas na faixa etária de 15 a 30 anos apresentam esse transtorno no Brasil”.

Como a dismorfia se manifesta
Entre os comportamentos associados à dismorfia está o chamado body checking, como explica a cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance. “O paciente checa seu corpo com fita métrica, balança, roupas antigas e espelho, diversas vezes ao dia. Existe também a comparação com outras pessoas nas redes sociais”. Tal obsessão frequentemente caminha ao lado de distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia, e exige acompanhamento médico e psicológico.
A nutróloga Dra. Marcella Garcez destaca que a distorção da imagem corporal muitas vezes está ligada a um medo exagerado de engordar, ainda que o peso esteja dentro do ideal. “No caso da bulimia nervosa, a pessoa tem episódios de compulsão seguidos por vômitos induzidos, laxantes ou exercícios excessivos. Já na anorexia, há recusa em manter um peso mínimo adequado, com restrição alimentar extrema e distorção da percepção corporal”, explica.
A comparação alimentada pelas redes sociais
Em tempos de redes sociais e filtros digitais, a pressão estética se intensifica. O cirurgião plástico Dr. Paolo Rubez observa que muitos pacientes passam a procurar procedimentos desnecessários em busca de um padrão inatingível: “As pessoas ficam obcecadas por parecerem outra pessoa, o que causa uma distorção de imagem. Com muito filtro, tornam-se até irreconhecíveis”.
Segundo especialistas, qualquer parte do corpo pode virar alvo da obsessão: da pele ao cabelo, do nariz ao formato corporal. “Além da indicação do tratamento psiquiátrico, o cirurgião plástico deve recomendar sempre a todas essas pacientes que substituam essas horas de tela do celular por mais tempo de qualidade, para as pessoas com que elas convivem e amam. Sempre que possível pensar nisso, praticar atividade física, cuidar do seu corpo, cuidar da sua saúde mental, porque esses padrões simplesmente não devem existir”, destaca Dra. Heloise.
“É um tema complexo e, na verdade, ainda é um grande desafio mostrar para cada paciente que é necessário que ele acolha cada mudança do seu corpo; e que às vezes o mais correto é investir na saúde do corpo e da mente. Não é um trabalho fácil, mas nós sempre precisamos estar ao lado dessas pessoas para orientar, acolher e acompanhar”, reforça a médica.
Superar a dismorfia exige coragem e, acima de tudo, autocompaixão. A Dra. Beatriz propõe um exercício: “Tratar-se com amor, mesmo à frente do espelho. Você falaria desta forma com alguma amiga? E por que fala assim com você mesma?”. Ela também sugere mudanças no ambiente: esconder balanças e fitas métricas, cobrir espelhos e limitar o uso de redes sociais podem ajudar a reduzir os gatilhos.