Síndrome de Rapunzel: bola de cabelo é retirada do estômago de menina

Entenda esse distúrbio compulsivo que é frequentemente associado à depressão ou ansiedade

Uma menina de nove anos foi internada em hospital na Índia com fortes dores de estômago. Ao ser examinada e passar por exames, os médicos descobriram uma massa que se assemelhava a um tumor. Porém, durante a cirurgia, o que eles encontraram foi uma bola de cabelo de 800g revestindo todo o estômago da criança.

Segundo os pais, a menina sentia dores há mais de um ano, mas só foi levada ao hospital quando a dor ficou insuportável.

A menina tinha o hábito de comer cabelo, comportamento que é conhecido como síndrome de Rapunzel.

 
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No caso dela são duas síndromes: tricotilomania, condição caracterizada por uma forte necessidade de arrancar os cabelos, e tricofagia, que é a ingestão compulsiva de cabelo.

Segundo os médicos, com o tempo, a bola de cabelo endureceu em seu estômago, causando as fortes dores.

Tricofagia e tricotilomania

A tricofagia, popularmente conhecida como “Síndrome de Rapunzel”, se caracteriza por essa mania de comer cabelo. A condição geralmente é um desdobramento da tricotilomania, uma doença comportamental crônica que se resume a impulsos incontroláveis e recorrentes de arrancar o próprio cabelo ou pelos de diferentes regiões do corpo, como barba, cílios e pelos pubianos.

Geralmente, a ação resulta no aparecimento de uma falha capilar perceptível na região do corpo que sofre a agressão.

A tricotilomania é o impulso incontrolável de arrancar fios ou tufos de cabelos ou pelos
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A tricotilomania é o impulso incontrolável de arrancar fios ou tufos de cabelos ou pelos

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), a tricotilomania deve ser considerada um distúrbio compulsivo e requer os seguintes critérios de diagnóstico: 1) tração recorrente dos fios, causando uma alopecia perceptível; 2) aumento da sensação de tensão imediatamente antes da ação de puxar os cabelos ou ao tentar resistir ao impulso; 3) prazer, gratificação ou alívio quando o cabelo é puxado e consequentemente extraído; e 4) a doença mental não deve ser considerada a única explicação para a existência dessa doença.

De acordo com o professor de Dermatologia José Marcos Pereira, da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, geralmente a agressão ao cabelo ocorre quando o paciente está distraído. “Assistindo televisão, estudando, falando ao telefone etc., e é intensificada quando associada a uma situação estressante, por exemplo, ao se preparar para um exame”, explica em um artigo publicado no Anais Brasileiros de Dermatologia.

Segundo o médico, a extração do cabelo nem sempre é imediata. “Frequentemente, o paciente passa horas torcendo os cabelos com os dedos ou manipulando-os de alguma forma e só mais tarde realmente os extrai. Isso ocasionalmente é feito com uma pinça”, afirma.

Estudos clínicos sugerem que, aproximadamente 40% dos pacientes com a mania de arrancar os cabelos ou pelos desenvolvem o hábito de engolir os fios, que acabam acumulados no estômago que não consegue digeri-los.

A bola de cabelo ou de pelo que vai se formando bloqueia o trânsito gastrointestinal e com o tempo pode levar a pessoa a óbito.

As mulheres são muito mais afetadas do que os homens. São cerca de 10 mulheres para cada homem com o problema. A idade média de início costuma ser aos 12 anos.

As duas condições estão frequentemente associadas à depressão e à ansiedade, principalmente quando aparecem após a adolescência. Por isso, o tratamento muitas vezes precisa envolver o psiquiatra.