‘Cãoterapia’: como os cães estão mudando a vida de quem precisa
Que o cachorro é o melhor amigo do homem ninguém duvida. Desde cedo, a amizade entre cães e crianças pode ser, além de muito verdadeira e divertida, também educativa e contributiva.
Em casos como crianças com deficiência auditiva, com autismo ou que dependem de cadeira de rodas, os cães adestrados podem impactar positivamente no processo de desenvolvimento, bem como na rotina de toda a família.
Pensando nisso, surgiu essa iniciativa da equipe do Vale da Neblina, de Farroupilha. Liderado por um centro de adestramento, a ideia é ajudar e dar mais autonomia às pessoas com deficiência, e implantar a cultura de cães como facilitadores ou ajudantes em diversas situações.
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A iniciativa mais recente de Janaina Ganzer e Cesar Augusto Beux, idealizadores do centro, é a criação do “cão ouvinte”. A cachorra Leona, da raça terrier brasileiro, ajuda o casal de surdos Natacha Soares Perazzolo e Gustavo Perazzolo a terem mais domínio de vivências domésticas que, antes, comprometiam o bem-estar em casa.
Quando alguém está batendo à porta, por exemplo, é Leona quem avisa. Ela sinaliza também se a chaleira de água está apitando e se o despertador do celular está tocando – tarefas simples, mas que para eles antes eram complexas, e agora ficaram muito mais viáveis graças à nova amiga.
A cadelinha foi adestrada por pouco mais de um ano, quando aprendeu sobre marcações: quando encosta a pata com força em alguém, por exemplo, está querendo comunicar que há algum ruído.
A formação envolve treinar o cachorro para reconhecer um determinado som e, em seguida, conduzir o seu dono à fonte emissora. Outras funções devem ser aprimoradas em breve por Leona. A parte mais legal é que todo o trabalho foi desempenhado de forma voluntária.
Assim como Leona, o labrador Jack tem uma função importantíssima na vida de alguém: no caso, Cecília, de 13 anos, que tem autismo. Ela frequenta, semanalmente, a aula de psicopedagogia na clínica Jeito de Ser, em Bento Gonçalves.
Lá, Cecília interage com o cachorro para vencer medos habituais em crianças com autismo, e tem também aprende a ler, escrever, falar de forma mais clara e alterar positivamente seu comportamento com o convívio com Jack.
“Depois que ela conheceu o Jack, ela novamente se interessou pelas letras, pela escrita, pelo caderno. Como ela tem dificuldade com a fala, há estímulo para que consiga elaborar melhor as frases e organizar seu pensamento. A evolução dela é gigantesca” – comenta a psicopedagoga Letícia Casonatto, do centro de adestramento Vale da Neblina.
Não é só diversão, não é só amizade. Em uma das atividades, por exemplo, Jack veste uma roupa de velcro e Cecília cola as letrinhas nele. Desta forma, a cada palavra que a menina monta de forma correta, recebe um latido de Jack.
As mudanças e o interesse da garota pelos estudos é visível: “A evolução dela tem me deixado muito feliz. Ela não é alfabetizada, mas esse ano, ela se interessou de novo pelos estudos. Depois que o Jack entrou na história, aumentou o senso de responsabilidade, de respeito. Ele é um incentivo muito grande para ela”, diz a mãe de Cecília, Débora Salvadore.
De acordo com a coordenadora do curso de especialização Educação Especial em Deficiência Intelectual e Múltipla da UCS, Maria Christine Quillfeldt Carara, além de estimular a função psicomotora e sensorial, o contato com cães possibilita a aprendizagem de atividades mais instrumentais de vida diária da criança autista e ou com deficiência, além de contribuir para o processo de inclusão.
- Legislação
Está para ser aprovado, na Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves, um projeto de lei que autoriza a entrada de animais de estimação em hospitais do município.
A ideia é que os mascotes possam visitar os pacientes internados, trazendo mais conforto e auxiliando no tratamento dos doentes. Haverá regras de higienização para que seja liberada a entrada dos bichos – precisarão de um laudo veterinário.
“Sabe-se que o contato com o animal aumenta o nível de endorfina, que é o hormônio da sensação de prazer e felicidade” – aponta a coordenadora do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), Claudia Lautert.
Os benefícios são comprovados cientificamente: “Esse contato ajuda a diminuir a pressão arterial e, por consequência, reduz o hormônio do estresse, o cortisol”, completa ela.
Vale ressaltar que, no Brasil, o serviço mais conhecido é o dos cães-guia para cegos e pessoas com baixa visão. Existe uma lei que permite que cegos possam entrar em qualquer estabelecimento público ou meio de transporte na companhia destes animais.
As raças mais propícias para adestramento são golden retriever, labrador, border collie e pastor alemão, entre outras.
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