Cientistas acreditam ter descoberto o gatilho da enxaqueca

Nova pesquisa oferece esperança para um determinado grupo de pacientes que sofrem com as dores de cabeça

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
13/11/2024 18:39 / Atualizado em 27/11/2024 21:12

Pesquisadores da Dinamarca decodificaram um mecanismo até então desconhecido pelo qual as crises de enxaqueca são desencadeadas. Isto poderia abrir caminho para novas terapias, relatam os pesquisadores na revista Science. Um grupo de pacientes em particular poderia se beneficiar dessas terapias.

Em cerca de 15% de todos os pacientes com enxaqueca, os ataques de dor de cabeça são precedidos por um distúrbio visual ou sensorial, a chamada aura.

Isso significa que as pessoas afetadas podem ver tremulação ou sentir dormência no rosto. Os sintomas podem durar de cinco a 60 minutos, seguidos por enxaquecas.

Embora a ciência possa explicar com alguma certeza por que os pacientes experimentam uma aura, tem sido um mistério como surgem as dores de cabeça e por que geralmente são unilaterais.

Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, fornece agora uma possível explicação pela primeira vez.

Pesquisa descobre novas proteínas que estão envolvidas na enxaqueca
Pesquisa descobre novas proteínas que estão envolvidas na enxaqueca - HayDmitriy/DepositPhotos

Enxaqueca: proteínas ativam células nervosas

Usando técnicas de última geração, como a espectrometria de massa, os autores demonstraram que as proteínas liberadas do cérebro durante uma enxaqueca com aura são transportadas com o líquido cefalorraquidiano para os nervos sinalizadores da dor responsáveis ​​pela dor de cabeça.

Essas proteínas, segundo os pesquisadores, ativam um grupo de células nervosas na base do crânio, que pode ser descrita como a porta de entrada para o sistema nervoso sensorial periférico do crânio.

Na raiz da base do crânio, falta o chamado gânglio trigêmeo, a barreira que impede a penetração de substâncias nos nervos periféricos.

Os pesquisadores dizem que o estudo conseguiu identificar o principal canal de comunicação entre o cérebro e o sistema nervoso sensorial periférico.

Segundo eles, essa é uma via de sinalização até então desconhecida que é importante para o desenvolvimento de enxaquecas e também pode desempenhar um papel em outros distúrbios de cefaleia.

O sistema nervoso periférico é composto por todas as fibras nervosas responsáveis ​​pela comunicação entre o sistema nervoso central – o cérebro e a medula espinhal – e a pele , órgãos e músculos. O sistema nervoso sensorial, que faz parte do sistema nervoso periférico, é responsável por transmitir informações sobre toque, coceira ou dor ao cérebro.

Dor de cabeça: as substâncias não atingem todo o espaço cerebral

Os resultados do estudo também esclarecem por que as enxaquecas ocorrem frequentemente de um lado. Os cientistas explicam que as substâncias não atingem todo o espaço cerebral, mas apenas o sistema sensorial de um lado.

O grupo de “proteínas da dor” identificado pelos pesquisadores incluía uma série de outras proteínas além do CGRP, proteína já ligada às enxaquecas e utilizada em tratamentos existentes. Eles agora esperam que as proteínas identificadas – além do CGRP – possam ser utilizadas no desenvolvimento de novos tratamentos preventivos. 

Sintomas típicos da enxaqueca

Os sintomas da enxaqueca variam de acordo com o tipo. Alterações na percepção visual, como pontos luminosos, flashes de luz ou linhas cintilantes, precedem a enxaqueca com aura.

Essas manifestações são um prenúncio da dor que está por vir e afetam cerca de 25% das pessoas que sofrem de enxaqueca.

Já a enxaqueca sem aura, que acomete cerca de 75% dos pacientes, caracteriza-se por uma dor de cabeça intensa, frequentemente unilateral, que pode durar horas ou dias.

Além da dor, a pessoa pode apresentar náuseas, vômitos, sensibilidade a estímulos externos e agravamento da dor com atividades físicas.

No caso de enxaqueca com aura, sintomas neurológicos, como distúrbios visuais, formigamento ou dormência, perda parcial do campo de visão e dificuldades na fala, podem ocorrer antes do início da dor.

Esses sintomas geralmente surgem gradualmente, duram cerca de 30 minutos e desaparecem antes que a dor se instale.