Cientistas descobrem por que o Alzheimer pode começar pela perda do olfato

Nova pesquisa mostra que células de defesa do cérebro destroem fibras nervosas do centro do olfato, oferecendo pistas para diagnóstico precoce

15/08/2025 22:34

A perda de memória é o sintoma mais conhecido da doença de Alzheimer, mas o problema pode começar anos antes com um sinal pouco valorizado: a perda do olfato. Pesquisadores descobriram que células imunológicas do cérebro, chamadas microglia, destroem fibras nervosas do bulbo olfatório, área responsável pelo processamento de aromas.

O papel da microglia na perda precoce do olfato

O estudo, publicado na Nature Communications, analisou camundongos geneticamente modificados para desenvolver sintomas semelhantes ao Alzheimer. Os cientistas identificaram que as fibras nervosas do locus ceruleus — produtor de norepinefrina — começaram a se degenerar no bulbo olfatório muito antes de outras regiões cerebrais serem afetadas.

Aos dois meses de idade, os roedores já apresentavam 14% de perda dessas fibras; aos seis meses, a perda chegava a 33%.

Estudos em humanos confirmam ligação entre perda do olfato e Alzheimer
Estudos em humanos confirmam ligação entre perda do olfato e Alzheimer - Ocskaymark/istock

Sinal químico acelera o dano

As fibras nervosas afetadas exibiam na superfície a molécula fosfatidilserina, que funciona como uma etiqueta química indicando que devem ser eliminadas. A microglia, ao reconhecer esse sinal, literalmente engolia fibras ainda funcionais, antecipando o comprometimento neurológico.

Quando os cientistas bloquearam a proteína TSPO, usada nesse processo, conseguiram preservar as fibras nervosas e manter o olfato nos animais.

Evidências em cérebros humanos

A pesquisa também avaliou tecidos cerebrais de pessoas com Alzheimer em estágio inicial, encontrando redução significativa das fibras produtoras de norepinefrina no bulbo olfatório. Em exames de imagem PET-TSPO, pacientes com comprometimento cognitivo leve já mostravam aumento da atividade imune nessa região, indicando que o processo ocorre antes da perda de memória.

Participantes com Alzheimer tiveram desempenho inferior em testes de identificação de odores quando comparados a pessoas saudáveis. Os cientistas sugerem que exames simples de olfato podem se tornar uma forma acessível e precoce de detectar alterações cerebrais associadas à doença, abrindo caminho para intervenções antes que danos mais graves se instalem.