Cientistas descobrem que a visão pode prever demência 12 anos antes do diagnóstico

A descoberta de que testes visuais podem prever demência com mais de uma década de antecedência representa um avanço importante na medicina preventiva

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
21/05/2025 19:00

Uma nova pesquisa publicada na revista Scientific Reports sugere que alterações na sensibilidade visual podem indicar risco de demência até 12 anos antes do diagnóstico clínico. Essa descoberta reforça a conexão direta entre olhos e cérebro e pode revolucionar estratégias de prevenção da doença.

No estudo, mais de 8.600 adultos saudáveis foram acompanhados por vários anos. Durante esse período, 537 participantes desenvolveram demência. No início do acompanhamento, todos passaram por um teste de sensibilidade visual, que avalia a velocidade de processamento visual — ou seja, o tempo que o cérebro leva para interpretar o que os olhos veem.

O teste consistia em identificar, o mais rápido possível, um triângulo que surgia entre pontos em movimento em uma tela. Os pesquisadores observaram que aqueles que foram diagnosticados com demência anos depois tiveram um desempenho significativamente mais lento nesse teste em comparação com os demais.

Essa diferença sugere que o declínio na capacidade de processar informações visuais pode ser um dos primeiros sinais da doença, muito antes dos sintomas clássicos de perda de memória se manifestarem.

Essa descoberta reforça a conexão direta entre olhos e cérebro e pode revolucionar estratégias de prevenção da demência
Essa descoberta reforça a conexão direta entre olhos e cérebro e pode revolucionar estratégias de prevenção da demência - monkeybusinessimages/istock

Como a visão se conecta à demência?

De acordo com os especialistas envolvidos na pesquisa, placas amiloides — proteínas associadas à doença de Alzheimer — podem se acumular em áreas do cérebro responsáveis pela visão antes mesmo de afetar regiões ligadas à memória. Isso explicaria por que alterações visuais ocorrem precocemente em alguns casos de demência.

Além disso, a demência pode afetar a capacidade de perceber contrastes, distinguir cores semelhantes e ignorar distrações visuais. Problemas de movimento ocular e percepção também têm sido observados em pacientes com a doença.

Apesar das descobertas promissoras, neurologistas alertam que ainda é cedo para incorporar testes de sensibilidade visual como ferramenta de diagnóstico precoce. “Precisamos de mais estudos para confirmar se esse tipo de avaliação pode realmente antecipar a demência de forma confiável”, afirma o neurologista Dr. Clifford Segil, do Providence Saint John’s Health Center, na Califórnia.

O que isso muda na prática?

Embora os exames oftalmológicos de rotina não incluam testes específicos de processamento visual, especialistas acreditam que essa abordagem poderá se tornar mais comum no futuro. “É uma área promissora que deve ser explorada com mais profundidade”, afirma o oftalmologista Dr. Bavand Youssefzadeh.

Por enquanto, os exames de visão ainda se concentram em identificar doenças como hipertensão, diabetes e colesterol alto, que também estão associados a um maior risco de declínio cognitivo.

Sintomas comuns de demência

Os sintomas mais frequentes de demência incluem:

  • Perda de memória, confusão e julgamento comprometido
  • Dificuldade para falar, escrever ou entender informações
  • Problemas para lidar com tarefas rotineiras ou financeiras
  • Desorientação em locais familiares
  • Repetição de perguntas ou falas
  • Alucinações, delírios e comportamentos impulsivos
  • Perda de interesse e empatia
  • Dificuldades motoras e de equilíbrio