Cientistas identificam a razão pela qual mais meninos do que meninas têm autismo e TDAH

Pesquisa aponta que substâncias tóxicas presentes no cotidiano podem afetar o cérebro em desenvolvimento de meninos, contribuindo para as condições

07/07/2025 10:33

Substâncias conhecidas por ser “eternas” podem causar mais problemas do que imaginávamos
Substâncias conhecidas por ser “eternas” podem causar mais problemas do que imaginávamos - vejaa/istock

Por que mais meninos são diagnosticados com autismo e TDAH do que meninas? Essa é uma pergunta recorrente na ciência, e um novo estudo da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, traz uma possível explicação preocupante: a exposição a substâncias químicas conhecidas como “eternas” pode afetar de forma mais severa o desenvolvimento cerebral dos meninos.

Esses produtos químicos, que incluem os PFAS (substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas), estão presentes em itens de uso diário como roupas resistentes a manchas, garrafas plásticas, embalagens de alimentos e até mesmo na água potável. Eles levam centenas, até milhares de anos para se decompor e têm sido associados a câncer, infertilidade, problemas imunológicos e agora a distúrbios do neurodesenvolvimento.

O papel do PFHxA no cérebro em desenvolvimento

No novo estudo, publicado no European Journal of Neuroscience, os cientistas investigaram especificamente os efeitos do PFHxA, um tipo de PFAS comum em embalagens de papel para alimentos. Para testar seus efeitos, camundongos fêmeas foram expostas à substância durante a gestação e lactação. Os filhotes, principalmente os machos, apresentaram mudanças comportamentais significativas, como:

  • Maior ansiedade
  • Menor nível de atividade
  • Problemas de memória

Esses sintomas lembram os de autismo e TDAH em humanos. O mais alarmante é que as fêmeas não apresentaram os mesmos efeitos, sugerindo uma vulnerabilidade maior do cérebro masculino a esse tipo de toxina.

Estudo acende alerta para a provável ligação entre substância tóxica e distúrbios do neurodesenvolvimento, como autismo e TDAH
Estudo acende alerta para a provável ligação entre substância tóxica e distúrbios do neurodesenvolvimento, como autismo e TDAH - iStock/Andrzej Rostek

Efeitos duradouros e preocupação crescente

Mesmo anos após a exposição inicial, os camundongos machos ainda demonstravam comportamentos alterados, indicando que o impacto desses químicos pode ser duradouro. Segundo a professora Elizabeth Plunk, principal autora do estudo, os resultados são “profundamente preocupantes” e devem acender um alerta sobre a necessidade de regulamentações mais rigorosas para produtos que contêm PFAS.

Além disso, os pesquisadores destacam a importância de investigar como essas substâncias afetam áreas do cérebro ligadas à memória, ao movimento e às emoções — regiões diretamente ligadas aos sintomas de TDAH e autismo.

Diagnósticos em alta e suspeitas de subnotificação entre meninas

Globalmente, estima-se que uma em cada 100 crianças esteja no espectro autista, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A ciência já questionava se as diferenças nos números de diagnósticos entre meninos e meninas eram reais ou fruto de viés de diagnóstico. Muitos especialistas acreditam que os sintomas nas meninas são mais sutis ou melhor mascarados, o que dificultaria a identificação precoce. Ainda assim, os novos dados sugerem que fatores ambientais, como a exposição a PFAS, podem realmente contribuir para a prevalência maior entre meninos.