Cientistas revelam nova teoria sobre o que pode causar o Alzheimer
Estudo revela que o problema pode não estar nas placas no cérebro, mas sim na perda de uma proteína essencial para a memória
Por décadas, a principal explicação para a doença de Alzheimer se concentrou no acúmulo de placas de beta-amiloide no cérebro, estruturas pegajosas que interrompem a comunicação entre os neurônios. No entanto, uma nova e surpreendente pesquisa sugere que esse entendimento pode estar incompleto, e talvez até equivocado.
Publicado no Journal of Alzheimer’s Disease, o estudo analisou um grupo de pessoas com mutações genéticas raras que as tornam altamente propensas a desenvolver Alzheimer. O foco da análise não foi apenas nas placas, mas no papel de uma versão solúvel e funcional da beta-amiloide, conhecida como beta-amiloide 42, essencial para a cognição.
Menos proteína funcional, mais risco de demência
Ao contrário do que se pensava, o estudo revelou que níveis reduzidos de beta-amiloide 42 no líquido cefalorraquidiano (LCR) estão mais fortemente associados à progressão da doença do que a quantidade de placas cerebrais. Isso indica que a perda da forma saudável da proteína pode ser mais perigosa do que o acúmulo da forma tóxica.
Os participantes que tinham níveis elevados dessa proteína solúvel no LCR conseguiram manter suas capacidades cognitivas, mesmo com a presença das placas. Essa descoberta desafia a ideia de que as placas são, por si só, o principal fator desencadeante da doença.

Mutantes genéticos raros, como os portadores das mutações Osaka e do Ártico, já haviam mostrado que é possível desenvolver Alzheimer com baixos níveis de beta-amiloide 42, mesmo sem placas detectáveis no cérebro. Isso reforça a hipótese de que a ausência da proteína funcional — e não a presença de placas — pode ser o fator determinante para o aparecimento da demência.
Um novo olhar para os tratamentos
A maioria dos medicamentos desenvolvidos até agora focava na remoção das placas do cérebro, mas muitos não mostraram eficácia clínica e, em alguns casos, até pioraram os sintomas dos pacientes.
O único fármaco recente que apresentou resultados positivos foi o, um anticorpo que, curiosamente, aumenta os níveis de beta-amiloide 42 no LCR, em vez de simplesmente removê-la. Isso corrobora a nova teoria de que restaurar os níveis saudáveis dessa proteína pode ser benéfico para a memória e a cognição.

Tratamento do futuro? Substituição ativa de proteínas
Com base nesses achados, cientistas agora consideram uma abordagem inédita: a reposição de proteínas funcionais. A ideia é usar análogos da beta-amiloide 42 que desempenhem seu papel no cérebro sem formar os aglomerados nocivos.
Essa estratégia pode abrir caminho para uma nova geração de terapias não apenas contra o Alzheimer, mas também contra doenças semelhantes, como Parkinson e esclerose lateral amiotrófica (ELA), que também envolvem acúmulo de proteínas defeituosas.