Mãe supera grave complicação no parto graças à doação de sangue

Neste Junho Vermelho, a história de Adriana Siqueira mostra como uma doação de sangue pode fazer a diferença entre a vida e a perda

Por Caroline Vale em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
06/06/2025 14:52 / Atualizado em 24/06/2025 22:27

Em meio a uma gestação que caminhava para o final, Adriana Gomes Siqueira Campos Baceti, de 43 anos, moradora de Itatiaia (RJ), não imaginava que viveria um dos capítulos mais dramáticos de sua vida.

Atualmente, 12 anos depois, ela carrega na memória essa experiência que a marcou para sempre — e que só foi possível superar graças ao sangue doado por desconhecidos.

Adriana sobreviveu a uma complicação grave do parto.
Adriana sobreviveu a uma complicação grave do parto. - reprodução/Instagram/@drisiqueiracampos

Um pós-parto que virou emergência

Grávida de 36 semanas, ela enfrentou um sangramento intenso pela manhã, como conta em entrevista especial à Catraca Livre para o Junho Vermelho, mês dedicado à conscientização sobre a importância da doação de sangue.

Meu marido estava fora do país a trabalho e meus amigos me socorreram, foi feito meu parto e durante ele perdi muito sangue. Meu filho nasceu sem sinais vitais, me desesperei e eles me apagaram.”

Quando acordou, para seu alívio, o bebê estava ao seu lado. Mas Adriana sentia que algo não ia bem… e ela estava certa.

Confusão mental, tontura e um mal-estar constante a acompanharam até a alta hospitalar. Em casa, as dificuldades se intensificaram. “Eu não conseguia dormir, deitar, porque eu sentia muita falta de ar, dor de cabeça que não passava mesmo medicada. Então eu dormia sentada no sofá, com almofadas me escorando, a cada movimento que eu fazia, o ar sumia.”

Quinze dias depois, seu estado piorou drasticamente. Com a ajuda da filha mais velha e uma amiga, Adriana foi levada ao hospital. De lá, sem saber a gravidade do que enfrentava, foi encaminhada às pressas a uma UTI de outra unidade.

Vi que de fato tinha algo de muito errado comigo, mas não sabia o que era. Ele [o médico] não me disse, apenas que eu tinha que ir o mais rápido possível.”

Corrida contra o tempo e o desafio de encontrar sangue

Adriana foi diagnosticada com pré-eclâmpsia, um quadro grave de pressão alta na gestação, que evoluiu para a Síndrome de HELLP, condição que afeta o fígado e a coagulação do sangue. Além disso, teve descolamento da placenta. Essas complicações causaram uma perda significativa de sangue.

Mas, depois do parto, ela recebeu alta hospitalar, então continuou perdendo sangue nas semanas seguintes e não sabia.

“Não lembro como cheguei nesse outro hospital, só lembro de duas intensivistas em cima de mim, eles abrindo meus olhos, me chamando, fazendo inúmeras perguntas, exatamente pra saber como eu estava neurologicamente. Eu só chorava.”

Ela não conseguia responder. Entendia tudo, mas seu corpo não reagia. Foi nesse momento crítico que a urgência por sangue se impôs.

Sou AB- e por isso foi mais dificultoso, mas conseguiram. Minha primeira bolsa chegou às 23 horas. Lembro da enfermeira entrando correndo e dizendo: ‘Nossa, como foi difícil achar essa bolsa, mas já estamos procurando outra.’ Eu só chorava, lembrando dos meus filhos.”

Com duas bolsas de sangue, Adriana respondeu bem ao tratamento: “não precisei de uma terceira bolsa, mas o acompanhamento era a risca, afinal de contas eu era puérpera.”

Felizmente deu tudo certo. Poucos dias depois, teve alta e voltou para casa com o coração em choque diante do que tinha vivido – e sobrevivido.

Eu chorava agradecendo a Deus pela segunda chance e pela pessoa que doou. […] Colocaram papéis nas lojas pedindo doações com meu nome, pediram doações na AMAN, pediram na TV local. Eu [agradeci tanto] pelo empenho das pessoas em salvar minha vida”, relata.

Gratidão que se transformou em voz

Anos se passaram desde aquele episódio, hoje seu filho, Bernardo, é um pré-adolescente saudável de 12 anos, mas a emoção ainda é viva. Adriana nunca esqueceu o gesto anônimo que a manteve viva, e que permitiu que hoje ela esteja em casa com seus três filhos.

O amor ao próximo, esse gesto tão lindo, salvou a minha vida. Esse gesto salva o amor da vida de alguém.”

Doze anos depois, Adriana segue grata por estar viva e ao lado dos três filhos.
Doze anos depois, Adriana segue grata por estar viva e ao lado dos três filhos. - reprodução/Instagram/@drisiqueiracampos

Por conta de uma doença autoimune, ela não pode doar sangue. Mas sua missão é outra: falar, com emoção e gratidão, sobre a importância desse ato.

Sempre conto muito emocionada e grata por cada vida que se dispõe em ajudar ao próximo”, finaliza.

Neste Junho Vermelho, a história de Adriana nos lembra que cada bolsa doada é a chance de alguém voltar pra casa, abraçar os filhos e recomeçar. E que cada doador, mesmo desconhecido, ocupa um lugar de herói silencioso na vida de outra pessoa.