Contraceptivo unissex à base de plantas é estudado por cientistas
Dois compostos químicos encontrados em medicamentos populares antifertilidade, bloqueiam um passo importante da fertilização: o encontro dos espermatozoides com o óvulo – e podem ser usados como alternativas efetivas aos anticoncepcionais atuais, baseados em hormônios, que podem causar efeitos colaterais, como aponta estudo publicado pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, Estados Unidos.
Extraídos de duas plantas conhecidas, Espinheira Santa (Maytenus ilicifolia) e aloe, os componentes impedem a hiperativação no esperma, que dá a potência necessária para fertilizar o óvulo.
Segundo o estudo, eles são eficazes mesmo em doses baixas e aparentemente não têm efeitos adversos sobre óvulos ou espermatozoides, além de evitar que o esperma envie as células que se reúnem em torno do óvulo e a membrana que o envolve, chamada zona pelúcida.
- Anticoncepcional masculino injetável deve ser lançado este ano
- DIU de cobre, prata e hormonal: vantagens, desvantagens e preços
- Estudo aponta melhor momento do dia para engravidar
- Ginecologista esclarece 9 dúvidas comuns sobre fertilidade
Eles funcionam detendo o poder de impulso do esperma, que normalmente é estimulado pelo hormônio progesterona, expelido por células que cercam o óvulo e faz a cauda do esperma se mover com força para impulsioná-lo em direção ao óvulo.
Segundo os pesquisadores da universidade, esses componentes poderiam ser usados para desenvolver contraceptivos não hormonais e não tóxicos, com ação permanente ou de emergência e que poderiam ser tomados por homens e mulheres.
“Como esses dois compostos de plantas bloqueiam a fertilização em concentrações muito baixas, cerca de 10 vezes menores do que os níveis de levonorgestrel, eles poderiam ser uma nova geração de contraceptivos de emergência, apelidamos de” preservativos moleculares”, disse Polina Lishko, professora assistente de biologia molecular e celular, que liderou a equipe que descobriu as propriedades antifertilidade dos dois compostos químicos.
Poder de locomoção do esperma
Lishko e seus colegas de laboratório estudam a reprodução masculina e feminina, incluindo os hormônios que desencadeiam hiperatividade nos espermatozoides.
No ano passado, a equipe já havia descoberto que o hormônio progesterona é a chave para abrir o canal de cálcio e desencadear o chicoteamento da cauda do espermatozoide. O hormônio se liga a uma proteína chamada ABHD2, que por sua vez abre o canal. Eles começaram a procurar outros produtos químicos que se ligariam ao ABHD2, abrindo o canal, como a progesterona, ou bloqueando o canal.
No estudo atual, a cientista Nadja Mannowetz, testou três outros hormônios: testosterona, estrogênio e cortisol – o hormônio do estresse. Os três competiram com a progesterona e bloquearam o movimento da cauda do esperma, embora apenas a testosterona e o cortisol fossem efetivos em níveis típicos dos níveis de hormônios no corpo.
Segundo Mannowetz, isso sugere que o estresse e níveis elevados de testosterona em mulheres diminuem a fertilidade, atrapalhando a penetração do esperma no óvulo.
Eles também encontraram um segundo hormônio que desencadeia o movimento da cauda: um esteroide estruturalmente parecido com a progesterona chamada sulfato de pregnenolona.
Pesquisando a literatura sobre contraceptivos naturais usados por povos indígenas em todo o mundo, eles encontraram vários produtos químicos -não esteroides – isolados de plantas antifertilidade que se assemelhavam aos esteroides que se ligam ao ABHD2 e bloqueiam o movimento do espermatozoide.
Um deles era pristimerina, da planta Tripterygium wilfordii, também conhecido como “videira trovão de Deus” (usadas como droga antifertilidade na medicina tradicional chinesa, embora alguns compostos nas folhas sejam venenosos), além de outra erva antifertilidade paraguaia, Maytenus ilicifolia ou Espinheira Santa.
Outro composto foi o lupeol, que é encontrado em plantas como a raiz de manga e dente-de-leão. Mannowetz descobriu que a pristimerina e o lupeol bloquearam a ligação da progesterona ao ADHD2, impedindo o poder de locomoção esperma.
“Esses compostos não apenas bloquearam a ativação do canal de cálcio, mas também bloquearam a mobilidade hiperativada do esperma, reduzindo sua atividade ao nível de espermatozoides não ativados. Não são tóxicos para os espermatozoides, eles ainda podem se mover, Mas eles não podem desenvolver um lançamento forte, porque toda essa via de ativação está desligada”, explica Lishko.
A equipe trabalha agora com pesquisadores do Oregon para testar a eficácia desses produtos químicos na prevenção da fertilização in vitro de primatas, já que seus estudos envolvem apenas esperma humano. Eles também estão buscam uma fonte barata desses compostos químicos, da família dos triterpenos, uma vez que as concentrações em plantas selvagens são muito baixas para uma extração a custo econômico efetivo para a produção de medicamentos.