Depressão refratária: como são os sintomas e tratamento

Controlar a condição pode exigir várias tentativas com abordagens diferentes, como ajustar medicamentos e tentar técnicas de estimulação cerebral

A depressão é um transtorno mental comum que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. No entanto, para alguns indivíduos, os tratamentos tradicionais, com o uso de antidepressivos, não são eficazes. Esses casos são frequentemente classificados como depressão refratária ou depressão resistente.

Entender os sintomas dessa condição e as opções de tratamento disponíveis é importante para ter uma melhora na qualidade de vida.

Como a depressão refratária é diagnosticada?

De acordo com o Hospital Cleveland Clinic, dos Estados Unidos, o diagnóstico de depressão refratária vem após um paciente não responder a pelo menos dois tratamentos adequados de antidepressivos, administrados por um período suficiente e em doses terapêuticas.

Além disso, uma avaliação detalhada é necessária para descartar outras condições médicas ou psiquiátricas que possam imitar ou exacerbar os sintomas depressivos.

A depressão refratária é aquela que não responde bem a pelo menos dois antidepressivos
Créditos: VitalikRadko/DepositPhotos
A depressão refratária é aquela que não responde bem a pelo menos dois antidepressivos

O que causa depressão refratária ou resistente?

Esta condição é complexa e suas causas são multifatoriais, envolvendo uma combinação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos e ambientais.

Desequilíbrios nos neurotransmissores, como serotonina, norepinefrina e dopamina, estão frequentemente associados à depressão.

Contudo, na depressão refratária, esses desequilíbrios podem ser particularmente resistentes às correções feitas por antidepressivos convencionais.

Além disso, alterações na estrutura e função do cérebro, especialmente em áreas como o córtex pré-frontal e o hipocampo, também estão implicadas. Assim, esses fatores biológicos podem dificultar a eficácia dos tratamentos tradicionais.

Pesquisas ainda indicam que a depressão pode ser hereditária, o que sugere que variações genéticas específicas podem tornar alguns indivíduos mais suscetíveis à depressão refratária.

Por exemplo, variantes genéticas que afetam a resposta ao tratamento antidepressivo podem desempenhar um papel. Portanto, a genética pode influenciar significativamente a probabilidade de uma pessoa desenvolver depressão refratária.

Além dos fatores biológicos e genéticos, fatores psicológicos e comportamentais também contribuem para a depressão refratária.

Com frequência, pessoas com esta condição podem ter traços de personalidade ou padrões de pensamento que exacerbam a depressão.

Por exemplo, altos níveis de pessimismo, baixa autoestima e estratégias de enfrentamento ineficazes podem impedir a recuperação.

Assim, questões como traumas passados ou experiências de vida adversas podem agravar a situação. 

Outro fator importante a considerar são as comorbidades. Muitas vezes, a depressão refratária coexiste com outras condições de saúde mental, como transtornos de ansiedade, transtorno bipolar ou abuso de substâncias.

Essas comorbidades podem complicar ainda mais o tratamento da depressão. Em muitos casos, tratar apenas a depressão sem abordar as condições coexistentes pode não ser suficiente para alcançar a remissão dos sintomas. 

Além disso, fatores ambientais também desempenham um papel importante. Estresse crônico, como problemas financeiros, conflitos familiares, e pressões no trabalho, podem perpetuar ou exacerbar a depressão.

Quais os sintomas da depressão refratária?

  • Sentimentos contínuos de tristeza, vazio ou desesperança que não melhoram com o tratamento.
  • Perda de interesse ou prazer em atividades anteriormente apreciadas, incluindo hobbies, esportes e interações sociais.
  • Perda ou ganho significativo de peso não intencional, acompanhado por alterações no apetite
  •  Insônia ou hipersonia (sono excessivo), que afetam a capacidade de funcionamento diário.
  • Sensação constante de cansaço e falta de energia, mesmo após descanso adequado.
  • Pensamentos recorrentes de culpa excessiva ou sensação de inutilidade.
  • Problemas em focar, tomar decisões e lembrar de detalhes.
  • Pensamentos frequentes de morte, suicídio ou tentativas de suicídio.

Em resumo, os sintomas da depressão refratária são semelhantes aos da depressão maior, mas são caracterizados por sua persistência e resistência ao tratamento.

O que fazer no caso de depressão refratária ou resistente?

Para tratar a depressão resistente, os psiquiatras costumam prescrever diferentes tipos de antidepressivos, por um tempo determinado, para que verificar qual apresenta um efeito melhor.

Há casos em que a cetamina é uma opção. A substância, que é originalmente um anestésico dissociativo, tem sido utilizada com sucesso para tratar a depressão refratária.

Administrações intravenosas de cetamina ou seu derivado, o esketamina, em forma de spray nasal, podem proporcionar alívio rápido dos sintomas depressivos.

“O Cetamina Intranasal é um medicamento inovador especificamente desenvolvido para esses indivíduos e que age de forma diferente dos antidepressivos tradicionais, promovendo um aumento transitório da liberação de glutamato”, explica a psiquiatra Maria Fernanda Caliani.

Ainda segundo a especialista em terapia cognitiva comportamental, o uso dessa medicação pode ser útil em casos de ideação suicida, que, envolve pensamentos e planos de suicídio.

“O medicamento tem se mostrado eficaz na reversão desses sintomas em poucos dias ou semanas de tratamento”, diz a médica.

E quando os antidepressivos não funcionam?

No entanto, quando a depressão não responde aos medicamentos, existem outras opções de tratamentos. Muitas delas estão no rol de tratamentos chamado de psiquiatria intervencionista.

Essas intervenções consistem em técnicas de estimulação cerebral que podem ser invasivas ou não.

De acordo com a Johns Hopkins Medicine, técnicas como a estimulação magnética transcraniana (EMT) e a estimulação do nervo vago (ENV) têm mostrado eficácia em casos de depressão refratária.

A terapia eletroconvulsiva (ECT) é outro tratamento comprovado para depressão grave e resistente, especialmente quando há risco iminente de suicídio.

Como funciona a estimulação cerebral para depressão?

  • Estimulação magnética transcraniana (EMT)

A estimulação magnética transcraniana (EMT) é um tratamento não invasivo, com poucos efeitos colaterais, que utiliza campos magnéticos para estimular as células nervosas no cérebro.

Um dispositivo com uma bobina eletromagnética é colocado contra o couro cabeludo, geralmente na região do córtex pré-frontal dorsolateral, que é associada à regulação do humor.

A bobina gera pulsos magnéticos que induzem pequenas correntes elétricas no cérebro, ativando as células nervosas nesta área.

Assim, pode causar a liberação de neurotransmissores e hormônios, como serotonina, norepinefrina e dopamina, que são críticos para a regulação do humor.

  • Estimulação do nervo vago (ENV)

Já a estimulação do nervo vago (ENV) envolve a implantação de um dispositivo semelhante a um marcapasso no peito, com eletrodos conectados ao nervo vago, que corre do cérebro até o abdômen.

O dispositivo envia impulsos elétricos regulares ao nervo vago, podendo alterar a atividade nas regiões do cérebro envolvidas na regulação do humor e das emoções.

Essa ação também pode alterar a atividade nas regiões do cérebro envolvidas na regulação do humor e das emoções.

  • Estimulação Cerebral Profunda (ECP)

Por fim, a ECP envolve a implantação de eletrodos em áreas específicas do cérebro. Os eletrodos são conectados a um dispositivo gerador de impulsos, implantado sob a pele do peito, que envia estímulos elétricos constantes ao cérebro.

Essa ação visa ajudar a normalizar a atividade em regiões do cérebro que são hiperativas ou hipoativas em pessoas com depressão. A estimulação constante também pode promover mudanças na conectividade neuronal, melhorando a função emocional e cognitiva.