Descoberta falha grave em exames de sangue promissores para Alzheimer

Pesquisadores observaram que exames de sangue para Alzheimer podem indicar outra doença

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
11/03/2025 11:32 / Atualizado em 23/03/2025 19:58

Uma nova pesquisa europeia levanta preocupações sobre a precisão dos exames de sangue para diagnosticar a doença de Alzheimer. O estudo revelou que os biomarcadores p-tau 181 e p-tau 217, usados para detectar a doença, também estão elevados em pacientes com esclerose lateral amiotrófica (ELA), podendo se originar do tecido muscular, e não apenas do cérebro.

Pesquisadores analisaram amostras de 152 pacientes com ELA, 111 com Alzheimer e 99 controles, demonstrando que ambos os grupos doentes apresentavam altos níveis de tau fosforilada no sangue. Entretanto, nos pacientes com ELA, esses níveis não estavam elevados no líquido cefalorraquidiano, sugerindo uma fonte não cerebral para essas proteínas.

Utilizando bópsias musculares e técnicas como imuno-histoquímica e espectrometria de massa, os cientistas descobriram concentrações elevadas de p-tau 181 e p-tau 217 em músculos atrofiados de pacientes com ELA. Essa evidência sugere que a degeneração muscular pode liberar essas proteínas na corrente sanguínea, interferindo nos diagnósticos diferenciais.

Impactos para diagnósticos de Alzheimer e ELA

Essa descoberta levanta dúvidas sobre a confiabilidade dos exames de sangue para Alzheimer, que podem confundir a doença com ELA ou outras condições musculares. No entanto, também abre caminho para novos biomarcadores no diagnóstico da ELA, uma doença que atualmente carece de exames definitivos.

Pesquisadores observaram que exames de sangue para Alzheimer podem indicar outra doença
Pesquisadores observaram que exames de sangue para Alzheimer podem indicar outra doença - Drs Producoes/istock

Os cientistas sugerem que a proporção entre p-tau 181 e p-tau 217 pode ajudar a diferenciar as condições. Além disso, observaram que os níveis dessas proteínas estavam correlacionados com a troponina T, um marcador de dano muscular.

O Futuro dos exames de sangue para doenças neurodegenerativas

Os avanços nos exames de sangue para Alzheimer geraram esperanças para uma detecção precoce e acessível da doença. No entanto, essa nova descoberta sugere a necessidade de uma abordagem mais cautelosa. Os autores do estudo destacam que exames positivos para p-tau devem ser acompanhados de avaliações complementares, como testes neuropsicológicos e análise do líquido cerebrospinal.

Para pacientes com ELA, essas proteínas podem se tornar um novo biomarcador para diagnóstico e monitoramento da doença, possibilitando tratamentos mais precoces e eficazes. Essa descoberta reitera a necessidade de avanços na distinção entre doenças neuromusculares e neurodegenerativas, impactando significativamente a medicina diagnóstica.