Descoberta genética pode abrir caminho para novos tratamentos da depressão
Estudo global sobre depressão revela centenas de genes ligados ao transtorno e reforça que ambiente e estilo de vida continuam sendo fatores decisivos
Um levantamento sem precedentes, considerado o mais abrangente e diverso já feito sobre depressão, trouxe avanços significativos na compreensão das origens do transtorno.

A pesquisa, publicada na revista Cell e liderada por especialistas das universidades de Edimburgo e King’s College London, analisou dados genéticos e de saúde de mais de 5 milhões de pessoas em 29 países, incluindo o Brasil.
Ao todo, os cientistas encontraram 308 genes e 697 variações genéticas associadas à depressão, quase 300 delas nunca haviam sido descritas antes. Essas alterações estão relacionadas a áreas do cérebro envolvidas no controle das emoções.
Diversidade genética
Diferente de pesquisas anteriores que focavam majoritariamente em populações europeias, este estudo teve um recorte mais representativo.
Cerca de 25% dos participantes eram de origem não europeia, com contribuições de voluntários da África, Ásia, América Latina e Sul da Ásia.
No Brasil, os dados vieram de 2.500 jovens de São Paulo e Porto Alegre acompanhados desde 2009, fortalecendo a representatividade regional da análise.
Apesar dos achados, os cientistas enfatizam que ter predisposição genética não significa que uma pessoa desenvolverá o transtorno. A genética responde por aproximadamente 37% do risco, segundo estudos anteriores.
Fatores como traumas, pobreza, estresse crônico e desigualdade social continuam sendo os principais gatilhos para o desenvolvimento da doença.
Novas possibilidades para tratamentos personalizados
A partir das descobertas, os pesquisadores passaram a investigar como os genes identificados interagem com medicamentos já existentes.
Entre os mais de 1.600 remédios avaliados, a pregabalina (analgésico) e o modafinil (usado para distúrbios do sono) apresentaram efeitos em genes ligados à depressão.
Ainda que promissores, esses usos alternativos precisam ser confirmados por estudos clínicos.
O avanço reforça o potencial para o desenvolvimento de tratamentos personalizados, considerando o perfil genético de cada indivíduo, o que pode tornar as abordagens mais eficazes no futuro.
O papel do ambiente na prevenção
Apesar do avanço da genética, os especialistas alertam que prevenir a depressão vai além dos medicamentos.
É fundamental investir em saúde mental, criar redes de apoio, reduzir o estresse e melhorar as condições de vida.
O estudo reafirma que cuidar do ambiente e do bem-estar emocional é essencial para evitar o surgimento do transtorno.