Descoberto novos fatores de risco para AVC em jovens

Pesquisadores identificaram que, em adultos com menos de 35 anos, condições não tradicionais de risco superam os fatores tradicionais

09/05/2025 15:02

Um novo estudo publicado na revista Circulation: Cardiovascular Quality and Outcomes, da American Heart Association, revelou que adultos jovens, especialmente entre 18 e 44 anos, podem ter risco elevado de sofrer acidente vascular cerebral (AVC) devido a fatores de risco não tradicionais, como enxaqueca, distúrbios autoimunes e doenças renais. A descoberta reforça a necessidade de atenção redobrada a sintomas frequentemente subestimados em pessoas mais jovens.

Enxaqueca é destaque entre os fatores de risco não tradicionais para AVC

Embora fatores tradicionais como pressão alta, colesterol elevado, diabetes e tabagismo sejam bem conhecidos por aumentar o risco de AVC, os pesquisadores identificaram que, em adultos com menos de 35 anos, condições não tradicionais superam esses fatores em relevância. A enxaqueca, em particular, destacou-se como o principal fator de risco não tradicional, sendo associada a 20% dos AVCs em homens e 35% em mulheres na faixa etária de 18 a 34 anos.

“Quanto mais jovem a pessoa no momento do AVC, maior a probabilidade de a causa estar ligada a um fator de risco não tradicional”, explica a autora principal do estudo, Dra. Michelle Leppert, neurologista da Universidade do Colorado.

Fatores não tradicionais de risco de AVC são mais comuns entre os jovens
Fatores não tradicionais de risco de AVC são mais comuns entre os jovens - bymuratdeniz/istock

Jovens estão cada vez mais vulneráveis a derrames

A análise foi feita com base em dados de mais de 10 mil indivíduos do Colorado, dos quais 2.600 sofreram AVC e mais de 7.800 não. Os pesquisadores avaliaram a presença de diversos fatores de risco, comparando sua influência em diferentes faixas etárias. Entre jovens de 18 a 34 anos, os fatores não tradicionais superaram os tradicionais em incidência de AVC, respondendo por 31% dos casos em homens e 43% em mulheres.

Na faixa etária de 35 a 44 anos, os fatores tradicionais passam a ter maior impacto, representando 33% dos AVCs em homens e 40% em mulheres. Já entre 45 e 55 anos, a pressão alta volta a liderar como principal causa, especialmente em homens.

O que são fatores de risco não tradicionais?

Fatores não tradicionais de AVC são condições que, embora não sejam típicas em idosos, aparecem com frequência em adultos jovens e têm sido cada vez mais associadas à ocorrência de derrames. Esses fatores incluem:

  • Enxaqueca
  • Distúrbios autoimunes
  • Trombofilia (tendência à formação de coágulos)
  • Insuficiência renal
  • Doenças cardíacas valvulares
  • Hepatite e HIV
  • Anemia falciforme
  • Uso de anticoncepcionais e gravidez (em mulheres)
  • Câncer (malignidades)

“Essas condições, embora menos discutidas, têm um papel relevante no risco de AVC entre jovens adultos e não devem ser negligenciadas”, afirma Leppert.

Implicações para diagnóstico e prevenção

Os dados sugerem que é fundamental ampliar o olhar clínico sobre o risco de AVC em jovens, especialmente aqueles que apresentam histórico de enxaqueca ou doenças inflamatórias. A detecção precoce desses fatores pode prevenir eventos graves e salvar vidas.

O estudo também aponta para a necessidade de desenvolver estratégias preventivas específicas para esse grupo etário, com foco não apenas em hábitos de vida, mas também no acompanhamento de condições clínicas menos convencionais.

Limitações e próximos passos

A pesquisa foi realizada com base em dados administrativos de seguros de saúde no Colorado, entre 2012 e 2019. Os autores reconhecem limitações, como ausência de informações detalhadas sobre raça e etnia, além do fato de o estudo ter sido feito em uma região de alta altitude, o que pode interferir nos resultados.

Mesmo assim, os achados reforçam uma tendência preocupante: o crescimento de AVCs em adultos jovens. Segundo Leppert, entender melhor os mecanismos por trás desses fatores de risco não tradicionais é essencial para desenvolver intervenções mais eficazes no futuro.