Doença celíaca: além do pão, veja o que nunca deve ir ao prato de um celíaco

Neste Dia Mundial da Doença Celíaca, entenda os riscos do glúten para quem tem a condição e saiba quais alimentos evitar

Por Caroline Vale em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
16/05/2025 13:51 / Atualizado em 24/05/2025 21:33

Celebrado nesta sexta-feira, 16, o Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Celíaca chama atenção para uma condição que afeta milhões de pessoas no mundo todo, muitas vezes de forma silenciosa.

Guia completo sobre a doença celíaca
Guia completo sobre a doença celíaca - MarsBars/iStock

De origem autoimune, a doença celíaca é desencadeada pela ingestão de glúten — proteína presente em cereais como trigo, cevada e centeio — e pode causar danos severos ao intestino delgado, afetando a absorção de nutrientes e provocando sintomas que vão de desconfortos digestivos a complicações de saúde.

Segundo a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), a data tem como objetivo sensibilizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce e da gestão adequada da doença, que nem sempre vem acompanhada de sintomas evidentes.

O que é a Doença Celíaca?

Quando uma pessoa celíaca consome alimentos com glúten, o intestino delgado fica inflamado e as vilosidades intestinais são danificadas. E essas vilosidades são responsáveis por absorver os nutrientes dos alimentos.

Com o tempo, isso pode provocar deficiência de vitaminas e minerais, perda de peso, fraqueza, entre outros problemas de saúde.

Essa condição afeta indivíduos com predisposição genética, mas pode aparecer em qualquer momento da vida, especialmente após infecções, intervenções cirúrgicas ou fases de grande estresse.

Sintomas

Nem todas as pessoas celíacas apresentam sintomas, mas, quando surgem, os mais comuns estão relacionados ao aparelho digestivo e à má absorção de nutrientes. Entre eles:

  • diarreia crônica;
  • gases;
  • inchaço abdominal;
  • dor;
  • desconforto estomacal;
  • náuseas e, em alguns casos, vômitos;
  • perda de peso sem motivo aparente;
  • cansaço constante;
  • dores de cabeça;
  • mudanças de humor;
  • dificuldade de concentração;
  • lesões na pele, como a dermatite;
  • anemia por deficiência de ferro;
  • enfraquecimento dos ossos, como osteopenia ou osteoporose;
  • em crianças, pode afetar o crescimento e o ganho de peso, além de provocar irritabilidade, diarreia prolongada e abdômen inchado com braços e pernas mais finos.

Vale destacar que alguns podem ter a doença de forma silenciosa, sem incômodos aparentes, mas com inflamação no intestino.

Por isso, o diagnóstico precoce e o acompanhamento médico e nutricional são fundamentais para prevenir complicações a longo prazo.

Doença celíaca pode provocar variados sintomas
Doença celíaca pode provocar variados sintomas - Biserka Stojanovic/istock

Quais são os benefícios de cortar o glúten?

Para quem tem diagnóstico confirmado de doença celíaca, eliminar o glúten da dieta é a única forma eficaz de controlar os sintomas e evitar complicações. A boa notícia é que os efeitos positivos costumam ser sentidos rapidamente.

Ao parar de consumir glúten, a pessoa celíaca costuma notar uma melhora clara nos sintomas digestivos, como diarreia, dor abdominal, gases e inchaço”, explica Clara Lucía Valderrama, nutricionista e membro do Conselho Consultivo de Nutrição da Herbalife, em entrevista à Catraca Livre. 

Também é comum recuperar a energia, ganhar peso se houver perda anterior e absorver melhor os nutrientes.”

Com o tempo, a exclusão do glúten permite que o intestino se regenere. “Além disso, o intestino começa a se regenerar, o que ajuda a prevenir complicações mais graves com o tempo”, completa Clara.

Quais são os alimentos perigosos para celíacos? 

Evitar pães, massas e bolos é apenas o começo. Quem convive com a doença celíaca precisa estar atento aos alimentos que aparentemente não contêm glúten, mas escondem riscos reais.

Alguns parecem ‘inofensivos’, mas podem conter glúten de forma oculta”, alerta Clara.

Por exemplo: molhos prontos (como o molho de soja), embutidos (salsichas, presunto), temperos industrializados, caldos de carne, balas e chocolates com recheio. Isso pode ocorrer tanto pelo uso de cereais com glúten quanto por contaminação cruzada.”

Além dos produtos óbvios, o glúten pode aparecer como ingrediente oculto ou como resultado de contaminação em fábricas. Confira alguns exemplos:

  • Suplementos e medicamentos, que às vezes usam glúten como excipiente;
  • Molhos prontos, como molho de soja, barbecue, branco e temperos em pó;
  • Carnes processadas, como hambúrgueres, nuggets, almôndegas e embutidos;
  • Snacks e guloseimas, como batatas fritas industrializadas e biscoitos;
  • Balas, chocolates, cereais matinais e barrinhas, que podem conter malte ou farinha de trigo.

Por isso, é essencial escolher produtos com a indicação clara de ‘sem glúten’ no rótulo”, reforça Clara. Em caso de dúvidas, consulte um nutricionista.

Como manter uma dieta sem glúten saudável?

Eliminar o glúten exige atenção redobrada à qualidade nutricional da alimentação. Segundo Clara, muitos acabam restringindo sem querer a variedade de cereais e alimentos integrais, o que pode causar deficiência de fibras, ferro, zinco, cálcio, ácido fólico e vitaminas do complexo B.

Para manter o equilíbrio, ela orienta:

  • incluir cereais naturalmente sem glúten, como arroz integral, quinoa, amaranto, milho e trigo sarraceno;
  • priorizar alimentos frescos e pouco processados, como frutas, verduras e leguminosas;
  • incluir suplementos nutricionais, se necessário, sempre com orientação profissional;
  • contar com o acompanhamento de um nutricionista, que possa adaptar o plano alimentar às necessidades da pessoa, prevenindo problemas de desnutrição ou deficiência de micronutrientes.
Alimentos livre de glúten na mesa
Alimentos livre de glúten na mesa - aamulya/DepositPhotos

O profissional pode orientar sobre uma alimentação que inclua proteínas de carnes, peixes, aves, laticínios, ovos; alimentos fontes de fibras, como frutas, verduras, nozes e sementes; hidratação adequada com bebidas como chás e infusões; além de gorduras saudáveis como os óleos vegetais, entre outros“, destaca a nutricionista.

E quem não é celíaco? Vale a pena tirar o glúten?

Apesar da popularidade crescente das dietas sem glúten, para quem não tem doença celíaca ou sensibilidade diagnosticada, não há necessidade de cortar a substância.

Para a maioria das pessoas, o glúten não representa nenhum risco. Às vezes, alguém pode dizer que se sente melhor ao retirá-lo da dieta, mas isso muitas vezes se deve ao fato de estar consumindo menos alimentos ultraprocessados, por exemplo — e não necessariamente está relacionado ao glúten em si”, explica Clara. 

Conscientização que salva

Embora ainda subdiagnosticada, a doença celíaca pode ser controlada com alimentação adequada e diagnóstico precoce.

O Dia Mundial do Celíaco é um lembrete para que mais pessoas conheçam os sinais da condição, procurem ajuda médica e tenham acesso à informação confiável sobre o tema.

Se você suspeita que pode ter a doença celíaca, não inicie uma dieta sem glúten por conta própria. Consulte um profissional para avaliação e acompanhamento.