Endometriose e experiências traumáticas têm ligação, segundo estudo

O estudo foi baseado em análises de dados observacionais e genéticos de 8.276 mulheres com endometriose

Por Silvia Melo em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
10/02/2025 08:01 / Atualizado em 13/02/2025 18:42

Estudo relaciona eventos traumáticos a endometriose
Estudo relaciona eventos traumáticos a endometriose - Tinnakorn Jorruang/istock

A endometriose, uma doença inflamatória crônica que afeta cerca de 190 milhões de mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo, pode ter uma ligação direta com experiências traumáticas. Um estudo internacional, com participação da Universidade de Barcelona, encontrou evidências que relacionam eventos estressantes, especialmente aqueles envolvendo contato físico, como abuso físico ou agressão sexual, ao desenvolvimento da endometriose.

Os resultados, publicados no JAMA Psychiatry, indicam que essa conexão pode ser independente da predisposição genética para a doença.

Impacto do trauma e da genética na endometriose

A pesquisa analisou dados observacionais e genéticos de 8.276 mulheres com endometriose e 240.117 controles do UK Biobank, banco de dados biomédico do Reino Unido. Os pesquisadores descobriram que mulheres com endometriose tinham:

  • 17% mais probabilidade de ter testemunhado uma morte súbita;
  • 16% mais probabilidade de ter sofrido agressão sexual na idade adulta;
  • 36% mais probabilidade de recebido um diagnóstico de doença de risco de vida.

Esses achados desafiam paradigmas ao revelar que a endometriose compartilha mecanismos genéticos com transtorno de estresse pós-traumático e outros tipos de trauma. De acordo com Dora Koller, pesquisadora da Universidade de Barcelona e primeira autora do estudo, o impacto do trauma psicológico na endometriose ainda é pouco compreendido, mas as novas evidências fornecem insights valiosos sobre a associação entre diferentes tipos de traumas e a doença.

Traumas na infância e diagnóstico precoce

As análises mostraram que experiências adversas na infância, como sentir-se rejeitada por um membro da família ou sofrer abuso físico, também podem aumentar o risco de desenvolver endometriose. Esses fatores podem influenciar a progressão da doença, independentemente da predisposição genética.

Além disso, a presença de cuidadores durante a infância, garantindo acesso adequado a cuidados de saúde, pode influenciar a resiliência ao estresse e reduzir a possibilidade de subdiagnóstico e subtratamento da endometriose.

Novas perspectivas para o tratamento da endometriose

A pesquisa reforça a necessidade de uma abordagem mais ampla no diagnóstico da endometriose, considerando não apenas fatores genéticos, mas também históricos de trauma. Essas descobertas podem abrir caminho para programas de rastreamento precoce, permitindo um tratamento mais eficaz e personalizado para pacientes com a doença.

Com esses avanços, a endometriose pode ser reconhecida não apenas como uma doença reprodutiva, mas como uma condição sistêmica crônica, necessitando de uma abordagem multidisciplinar para melhorar a qualidade de vida das mulheres afetadas.