Entenda a relação entre o jejum e o Alzheimer, segundo a ciência

Estudo realizado nos EUA investiga relação entre os dois fatores.

Por André Nicolau em parceria com João Gabriel Braga (Médico Generalista - CRMGO 28223)
22/09/2024 06:01

A relação não envolve reduzir a quantidade de alimentos, mas sim limitar o tempo em que eles são consumidos – StephanieFrey/istock
A relação não envolve reduzir a quantidade de alimentos, mas sim limitar o tempo em que eles são consumidos – StephanieFrey/istock - StephanieFrey/istock

Um estudo recente da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego traz uma descoberta surpreendente: o jejum intermitente pode ser uma poderosa arma contra o Alzheimer.

Em experimentos com ratos, os cientistas observaram que restringir o período diário de alimentação pode ajudar a reverter as perturbações do ritmo circadiano frequentemente associadas à doença.

A estratégia não envolve reduzir a quantidade de alimentos, mas sim limitar o tempo em que eles são consumidos. Os pesquisadores acreditam que essa abordagem pode ser eficaz em humanos, e ensaios clínicos já estão no horizonte.

Entenda a relação entre o jejum e o Alzheimer

Por muitos anos, a ciência acreditava que as disfunções do ritmo circadiano em pessoas com Alzheimer eram uma consequência da neurodegeneração. Mas agora, os pesquisadores estão considerando o contrário: essas disfunções podem ser um fator-chave no desenvolvimento da doença. Isso abre novas portas para tratar o Alzheimer, focando em restaurar o relógio biológico interno dos pacientes.

Pacientes com Alzheimer frequentemente enfrentam problemas como distúrbios no ciclo sono-vigília, confusão noturna e dificuldade para adormecer.

Esses sintomas acabam afetando profundamente a qualidade de vida, tanto dos pacientes quanto de seus familiares, levando muitos a procurar cuidados em instituições.

Ou seja, ao sincronizar o relógio circadiano por meio de ajustes na alimentação e no jejum, os pesquisadores acreditam que será possível melhorar significativamente a saúde e o bem-estar desses indivíduos.

O que mostram os estudos?

No experimento, os ratos com Alzheimer foram submetidos a uma janela alimentar de apenas seis horas diárias – equivalente a cerca de 14 horas de jejum para humanos. Aqueles que seguiram essa dieta restrita apresentaram melhorias notáveis: memória aprimorada, ciclos de sono mais regulares e menor confusão durante a noite.

Além disso, os ratos submetidos ao jejum mostraram um desempenho superior em testes cognitivos em comparação aos que comiam sem restrições. No nível molecular, os benefícios continuaram: houve uma redução nos depósitos de proteína amiloide no cérebro – um dos marcadores mais conhecidos do Alzheimer.

Revolucionando o tratamento do Alzheimer

Cerca de 80% das pessoas com Alzheimer enfrentam disfunções do ritmo circadiano, o que agrava tanto os problemas de sono quanto o declínio cognitivo. Embora atualmente não existam tratamentos focados nesse aspecto da doença, os resultados desse estudo mostram que ajustar o ciclo de alimentação pode ser uma abordagem eficaz.

Publicado na revista Cell Metabolism, o estudo demonstra que, ao sincronizar os horários das refeições, é possível não só melhorar a memória, mas também reduzir a progressão das características moleculares do Alzheimer, como o acúmulo de proteínas amiloides no cérebro.

De toda forma, ainda necessitam mais estudos para comprovar esta relação, além disso, introduzir este modelo de jejum à rotina deve ter orientação de um profissional de saúde.