Entenda como a alexitimia afeta a capacidade de expressar emoção

A condição pode ser mais comum entre as pessoas que sofrem com depressão ou estão dentro do espectro autista

Como seres humanos, nossas vidas são profundamente influenciadas pela forma como vivenciamos e expressamos nossas emoções. Mas imagine não ser capaz de fazer isso. É o que chamamos de alexitimia.

Estima-se que 1 em cada 10 pessoas tenha alexitimia, mas é muito mais comum em pessoas com depressão e em pessoas autistas. Cerca de metade das pessoas autistas têm dificuldade em compreender e descrever as suas próprias emoções. 

O que é alexitimia? E como isso funciona na prática?

Alexitimia é um termo para descrever problemas em sentir emoções. Em grego, traduz-se livremente como “sem palavras para emoção”. 

Se a pessoa tem alexitimia, não apenas terá dificuldade em saber como se sente, mas também terá dificuldade em dizer aos outros como se sente.

Isso pode deixá-la socialmente ansiosa, pois ela não consegue ler sinais não-verbais.

A alexitimia é muito mais comum em pessoas com depressão e em pessoas autistas
Créditos: everett225/DepositPhotos
A alexitimia é muito mais comum em pessoas com depressão e em pessoas autistas

No fundo, a pessoa pode ser altamente sensível e empática, mas por causa dessa dificuldade específica, os outros podem entendê-la erroneamente, como alguém frio, indiferente e arrogante.

Como resultado, é mais provável que você sofra de isolamento social e solidão.

Qual a causa da alexitimia?

Muitos estudos tentam decifrar a alexitimia e o que está por trás dela.

Uma pesquisa publicada em abril de 2023 no periódico Psychological Bulletin conseguiu sintetizar evidências empíricas na literatura global sobre as ligações entre a alexitimia adulta e de maus-tratos na infância.

De acordo com a coautora sênior Anat Talmon, que supervisionou o estudo, dá para dizer com confiança que esses fenômenos — maus-tratos infantis e alexitimia — estão bastante relacionados entre si.

O trabalho foi realizado por pesquisadores da Universidade de Stanford. 

Para isso, 78 publicações que relataram detalhes de possíveis maus-tratos infantis e níveis de alexitimia na idade adulta foram analisadas.

Além disso, o estudo envolveu cerca de 36 mil participantes para avaliar a condição. 

Durante a pesquisa, foi observado que três tipos de maus-tratos na infância estavam fortemente associados à alexitimia em indivíduos:

  • negligência emocional;
  • abuso emocional
  • negligência física

Segundo os pesquisadores, os dois últimos estavam frequentemente presentes juntos.

Além disso, o abuso sexual e físico também mostraram ligação com o distúrbio, embora em menor grau.

Os tipos de negligências e abusos

A negligência emocional dos pais refere-se à falta de atendimento adequado às necessidades emocionais e psicológicas de uma criança.

Diferente do abuso físico ou verbal, a negligência emocional é mais sutil e muitas vezes passa despercebida, mas pode ter consequências profundas e duradouras no desenvolvimento e bem-estar emocional da criança.

Já o abuso emocional, segundo o artigo, é uma forma de maus-tratos em que os pais ou cuidadores infligem dor e sofrimento emocional à criança. Isso pode acontecer quando ocorre ridicularização, desvalorização ou culpabilização da criança.

A negligência física refere-se à falta de fornecimento de alimentação adequada, roupas ou um ambiente seguro pelos cuidadores.

Os autores do artigo, destacam que a negligência emocional e o abuso emocional são muitas vezes mais difíceis de serem identificados pelas vítimas ou por terceiros. Assim, as vítimas podem ser menos propensas a procurar ajuda.

“Ninguém está satisfazendo suas necessidades emocionais, mas você não tem a capacidade de identificar e reconhecer suas emoções por conta própria, o que aumenta a probabilidade de desenvolver alexitimia”, explica a coautora Talmon. 

Os desafios diários de quem tem alexitimia

  • Não ter ideia do que está sentindo por dentro. Quando outros perguntam como a pessoa está, ela não sabe o que responder, pois não consegue entrar em contato com o que está acontecendo lá dentro.
  • Na maioria das vezes, ela só consegue dizer se está se sentindo “bem” ou “mal”, “feliz” ou “infeliz”, e não há muitas nuances além disso.
  • A pessoa fica desconectada de suas próprias necessidades e desejos. Os outros ao seu redor também não sabem o que você quer, levando a frustrações de relacionamento e interpessoais.
  • A pessoa não é capaz de comunicar nenhuma emoção nem mesmo para a família e amigos próximos, mas de repente pode apresentar um comportamento perturbador, como acessos de raiva.

Alexitimia e autismo

Embora os indivíduos no espectro do autismo sejam muito mais propensos a apresentar traços de alexitimia, a pesquisa sobre a correlação entre as duas condições é inconclusiva.

O consenso existente parece ser que a alexitimia ocorre frequentemente com o autismo e não é causada pelo autismo (ou vice-versa).