Entenda como funciona a vacinação contra a mpox

Após provocar surtos na África, subtipo mais letal do vírus já foi identificado na Europa

As vacinas da mpox ajudam a controlar a disseminação da doença e proteger populações vulneráveis
Créditos: yalcinsonat1/DepositPhotos
As vacinas da mpox ajudam a controlar a disseminação da doença e proteger populações vulneráveis

Com a preocupação crescente acerca da nova cepa de mpox identificada na África e na Suécia, a pergunta que fica é: existem vacinas para prevenir a infeção?

A resposta objetiva é ‘sim’. Porém, nenhum dos imunizantes disponíveis age especificamente contra o vírus que causa a doença.

As vacinas utilizadas nesse caso em muitos países são as para a varíola humana, doença agora erradicada.

Como isso é possível?

O vírus da mpox pertence a um gênero de vírus chamado Orthopoxvirus, que são todos vírus de DNA complexos. 

Entre outros, os vírus deste gênero incluem o vírus da varíola humana, o vírus da varíola bovina e o vírus da vaccinia. 

Os vírus desse gênero apresentam grande similaridade genética, o que possibilita que vacinas desenvolvidas contra outros vírus também sejam usadas para proteger contra a infecção por mpox.

Como, então, funcionam as vacinas contra a mpox? 

As vacinas que protegem contra a mpox dependem de um fenômeno chamado reatividade cruzada.

A reatividade cruzada acontece quando diferentes antígenos — diferentes espécies de vírus, por exemplo — parecem semelhantes ao nosso sistema imunológico.

Como os vírus do tipo Orthopoxvirus são estruturalmente semelhantes, se uma pessoa for infectada pelo vírus da varíola, por exemplo, os anticorpos que suas células produzirão contra o vírus também serão capazes de protegê-la contra uma infecção pelo vírus da mpox.

Assim, a reatividade cruzada entre anticorpos contra o Orthopoxvirus permite que uma vacina desenvolvida para combater a varíola, por exemplo, também funcione contra infecções por mpox. 

Quais vacinas usadas para mpox?

Atualmente, existem duas vacinas aprovadas em vários países para prevenir a infecção pelo vírus mpox: a Jynneos e a ACAM 2000.

A  Jynneos  é produzida pela farmacêutica dinarmaquesa Bavarian Nordic e composto pelo vírus atenuado. Ela possui efeitos colaterais considerados leves, como dor no local da aplicação, vermelhidão e inchaço. 

Já a ACAM 2000, fabricada pela americana Emergent BioSolutions, possui diversas contraindicações e mais efeitos colaterais por ser composta pelo vírus ativo. Dessa forma, ela é menos segura.

As vacinas são aplicadas em duas doses, mas a OMS não recomenda a imunização em massa contra a mpox, neste momento.

A vacina é especialmente recomendada para pessoas em risco elevado de exposição ao vírus, como profissionais de saúde e indivíduos que tiveram contato com casos confirmados.

A vacinação é uma ferramenta importante para interromper a disseminação do mpox, mas não se sabe quanto tempo a proteção pode durar, ou se a proteção pode diminuir com o tempo.

Mesmo pessoas vacinadas devem continuar tomando os devidos cuidados para evitar contrair e espalhar o vírus.

Existem vacinas no Brasil?

A vacinação contra a mpox já existe no Brasil, e após a declaração de emergência global pela OMS, o Ministério da Saúde iniciou a negociação para a compra emergencial de 25 mil doses da Jynneos.

No país, apenas pessoas que vivem com o vírus HIV, profissionais de laboratórios que trabalham diretamente com o patógeno e equipes de saúde específicas recebem as doses pré-exposição.

Os outras são vacinadas caso tenham tido contato com pessoas infectadas.

Como reduzir o risco de contrair mpox?

  • Evite contato físico com pessoas infectadas ou com lesões suspeitas.
  • Lave as mãos regularmente com água e sabão ou use álcool em gel, especialmente após o contato com uma pessoa infectada.
  • Use máscara ao manusear vestimentas ou roupas de cama de uma pessoa com o vírus.
  • Use máscaras em ambientes onde há risco de exposição a secreções respiratórias.
  • Cubra qualquer ferida ou lesão na pele para evitar infecção.
  • Se estiver em um grupo de risco, considere a vacinação contra mpox.
  • Em países onde há animais portadores do vírus mpox, evite contato desprotegido com animais selvagens, sobretudo se estiverem doentes ou mortos (incluindo contato com carne e sangue do animal).
  • Use proteção durante relações sexuais e evite múltiplos parceiros, especialmente em áreas de surtos.

A mpox tem cura?

Não há nenhum tratamento antiviral aprovado atualmente para mpox. Em casos muito graves, o médico pode prescrever antivirais usados para tratar outras infecções, como a varíola. 

Mas no geral, a mpox é uma doença que melhora sem tratamento. Geralmente, os sintomas duram de duas a quatro semanas. 

A mpox pode matar?

Sim, para uma pequena parte da população, a mpox pode ser fatal, com taxas de mortalidade variando entre 0,1% e 10%.

A gravidade e o risco de morte podem ser influenciados por fatores como acesso a cuidados de saúde e imunossupressão, incluindo casos de HIV não diagnosticado ou avançado.

Embora a maioria dos sintomas desapareça em algumas semanas com cuidados de suporte, em alguns casos, a doença pode levar a complicações graves ou até à morte, especialmente em recém-nascidos, crianças, grávidas e pessoas imunossuprimidas.

Além disso, a nova cepa da mpox, que provocou surtos na África, parece ser mais letal que as outras variantes do vírus.