Estudo descobre mecanismo que está por trás do efeito sanfona

Este estudo revoluciona o entendimento sobre por que tantas pessoas recuperam o peso perdido após dietas ou cirurgias

27/05/2025 07:02 / Atualizado em 03/06/2025 16:39

Quem já perdeu peso e, pouco tempo depois, voltou a engordar, conhece bem o chamado efeito sanfona, quando o corpo recupera rapidamente o peso perdido. Até então, essa oscilação era atribuída principalmente à dificuldade de manter dietas restritivas. No entanto, um novo estudo publicado na revista Nature revela que a epigenética pode ser a verdadeira causa por trás desse fenômeno.

Pesquisadores do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurique), na Suíça, descobriram que células de gordura podem manter uma “memória” da obesidade, o que facilita a retomada do peso corporal após o emagrecimento.

O que é epigenética e como ela influencia o peso?

A epigenética estuda alterações na expressão dos genes que não envolvem mudanças na sequência do DNA em si. Ou seja, fatores como alimentação, estresse, sono e estilo de vida podem ativar ou desativar genes, e essas modificações influenciam diretamente o funcionamento do corpo, incluindo a forma como ele armazena gordura.

Essa “memória” epigenética pode afetar células por anos. Segundo os cientistas, as células de gordura têm vida longa, em média, até 10 anos, e retêm essas alterações moleculares mesmo após uma perda de peso significativa.

A memória epigenética das células de gordura ajuda a explicar por que o corpo “luta” para voltar ao seu estado anterior
A memória epigenética das células de gordura ajuda a explicar por que o corpo “luta” para voltar ao seu estado anterior - fcafotodigital/itock

Estudo revela base molecular do efeito sanfona

O estudo, feito inicialmente em camundongos com sobrepeso, demonstrou que a obesidade causa alterações epigenéticas no núcleo das células adiposas. Mesmo após a perda de peso por meio de dieta, esses marcadores permanecem ativos.

Quando os camundongos voltaram a consumir uma dieta rica em gordura, recuperaram o peso perdido mais rapidamente. Isso confirma que o organismo se lembra de seu estado anterior e tenta retornar a ele com mais facilidade — uma explicação molecular para o efeito sanfona.

“As células de gordura lembram do estado de sobrepeso e podem retornar a ele com mais facilidade”, explica Ferdinand von Meyenn, professor de Nutrição e Epigenética Metabólica da ETH Zurique.

As células de gordura lembram do estado de sobrepeso e podem retornar a ele com mais facilidade
As células de gordura lembram do estado de sobrepeso e podem retornar a ele com mais facilidade - Pavel_Chag/istock

Humanos também apresentam esse mecanismo

Apesar do experimento inicial ter sido feito com animais, os cientistas encontraram evidências semelhantes em humanos. Biópsias de tecido adiposo de pessoas que passaram por cirurgia bariátrica ou redução de estômago apresentaram sinais consistentes de expressão genética associada à obesidade anterior.

Embora os testes em humanos tenham analisado a expressão genética e não diretamente os marcadores epigenéticos, os resultados reforçam a teoria de que o corpo carrega uma memória biológica da obesidade.

Por que evitar o excesso de peso é essencial

Com base nessa descoberta, os pesquisadores alertam que prevenir a obesidade é mais eficaz do que tratá-la. Como ainda não existem medicamentos capazes de apagar essa memória epigenética, o ideal é evitar que ela se forme.

“Esse efeito de memória reforça a importância de evitar o excesso de peso desde o início. É a maneira mais simples de combater o efeito sanfona”, afirma von Meyenn.

Além disso, os cientistas acreditam que outras células do corpo, como as do cérebro e vasos sanguíneos, também possam manter uma memória epigenética da obesidade, o que ampliaria ainda mais os desafios no controle de peso a longo prazo.