Estudo fornece a primeira prova da ligação entre plástico e autismo

Pesquisadores apontam para o poder tóxico do bisfenol a (BPA) que pode ter implicação no autismo e TDAH

Por Silvia Melo em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
30/10/2024 12:02 / Atualizado em 31/10/2024 13:08

A incidência de autismo (transtorno do espectro autista – TEA) e TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade) aumentou muito nas últimas décadas. As razões são amplamente desconhecidas, embora se acredite que fatores ambientais sejam importantes. E agora, um estudo indicou que a exposição ao plástico pode ser um das causas.

O estudo publicado em 2023 no periódico de acesso público PLOS ONE apontou que crianças com autismo e TDAH geralmente têm uma capacidade reduzida de eliminar o aditivo plástico comum, o bisfenol A (BPA), de seus corpos, aumentando assim sua exposição ao componente.

Após o BPA ser ingerido ou inalado, ele é filtrado do sangue no fígado por meio de um processo chamado glucuronidação. Glucuronidação é o processo de adicionar uma molécula de açúcar a uma toxina. Isso torna a toxina solúvel em água, permitindo que ela saia rapidamente do corpo pela urina. 

Os humanos mostram variabilidade genética em sua capacidade de desintoxicar BPA. Indivíduos geneticamente suscetíveis têm mais dificuldade em desintoxicar seu sangue por meio desse processo, o que significa que seus tecidos são expostos a BPA em concentrações mais altas por períodos de tempo mais longos.

Crianças com autismo e TDAH geralmente têm uma capacidade reduzida de eliminar plástico comum, o bisfenol A (BPA), de seus corpos, aumentando assim sua exposição ao componente
Crianças com autismo e TDAH geralmente têm uma capacidade reduzida de eliminar plástico comum, o bisfenol A (BPA), de seus corpos, aumentando assim sua exposição ao componente - jmalov/istock

O estudo mostrou que, para uma proporção significativa de crianças com autismo, a capacidade de adicionar a molécula de glicose ao BPA é cerca de 10% menor do que a das crianças sem autismo.

Para uma proporção significativa de crianças com TDAH, é cerca de 17% menor.  

Para os pesquisadores, essa capacidade comprometida de limpar tais poluentes ambientais do corpo é “a primeira evidência bioquímica sólida de qual é a ligação entre o BPA e o desenvolvimento do autismo ou TDAH”.

A ligação entre a desintoxicação do BPA, o autismo e o TDAH

A este estudo se atribui a primeira prova concreta da ligação entre a exposição ao BPA e o desenvolvimento de autismo e TDAH, conforme explica T. Peter Stein, autor principal da pesquisa e professor da Rowan-Virtua School of Osteopathic Medicine. “Ficamos surpresos ao descobrir que o TDAH apresenta o mesmo defeito na desintoxicação do BPA”, disse.

Stein alerta, no entanto, que mais pesquisas são necessárias: pode ser que o autismo e o TDAH se desenvolvam ainda no útero, por meio do aumento da exposição da mãe, ou em algum momento após o nascimento da criança.

O especialista também lembra que é provável que existam outros fatores, além da exposição ao BPA, envolvidos no desenvolvimento destes transtornos.

Onde encontramos o BPA?

BPA está presente em plásticos de policarbonato. É matéria prima para a fabricação de garrafas de água reutilizáveis, recipientes de armazenamento de alimentos e outras embalagens plásticas.

Ele também compõe resinas epóxi que revestem o interior de latas de alimentos e bebidas para evitar a corrosão.

Antigamente, o BPA era comum em mamadeiras e copos para bebês, mas muitos países agora restringem ou proíbem o uso de BPA nesses produtos devido a preocupações com a saúde.