Estudo identifica bebida que melhora o funcionamento do intestino

Mudanças significativas na microbiota puderam ser observadas após três semanas de ingestão diária da bebida

08/02/2023 11:45

Um novo estudo conduzido por um time internacional de pesquisadores e publicado em The American Journal of Clinical Nutrition identificou um novo benefício do vinho tinto. Segundo os cientistas, o consumo moderado da bebida ajuda a remodelar em poucas semanas a microbiota do intestino e beneficia o coração.

O trabalho, intitulado “Wine Flora Study” e apoiado pela FAPESP, observou o benefício em vinhos feitos com a uva merlot.

Vinho merlot ajuda a remodelar em poucas semanas a microbiota intestinal, segundo estudo
Vinho merlot ajuda a remodelar em poucas semanas a microbiota intestinal, segundo estudo - Uladzimir Zuyeu/istok

Para essa pesquisa foram avaliados 42 pacientes homens com idade média de 60 anos e com doença arterial coronariana.

Os cientistas usaram no ensaio clínico uma estratégia conhecida como cross over, ou seja, cada um dos participantes passou por duas intervenções: durante três semanas, consumiam diariamente 250 mililitros de vinho tinto (com 12,75% de concentração alcoólica e produzido com uva merlot pelo Instituto Brasileiro do Vinho especialmente para o estudo) e, pelo mesmo período, abstinham-se de álcool.

Antes de submeterem ao teste, os participantes pausaram o consumo de determinadas substâncias para que seus traços sejam totalmente eliminados do organismo. Durante duas semanas, eles não consumiram bebidas alcoólicas, alimentos fermentados (iogurte, kombucha, lecitina de soja, kefir e chucrute, por exemplo), prebióticos (incluindo insulina), probióticos, fibras e derivados do leite.

Esses participantes também fizeram uma dieta controlada e sem outros componentes presentes no vinho, como os polifenóis também encontrados nos chás, no morango e no suco de uva.

Para o benefício ser alcançado, o consumo não pode ser exagerado
Para o benefício ser alcançado, o consumo não pode ser exagerado - Oleksandra Troian/istock

A cada intervenção, a microbiota intestinal foi analisada com a ajuda de uma tecnologia que permite a identificação genética de espécies de bactérias.

Também foram analisados os metabólitos presentes no plasma (metaboloma plasmático), como resultado da metabolização de compostos químicos e alimentos.

Os pesquisadores observaram que a microbiota intestinal sofreu remodelação significativa após o período de consumo da bebida – com predominância dos gêneros Parasutterella, Ruminococcaceae, Bacteroides e Prevotella. Tais microrganismos são fundamentais na homeostase humana, ou seja, no funcionamento normal do organismo.

Houve também mudanças significativas em processos metabólicos que garantem o equilíbrio das moléculas oxidantes e antioxidantes, evitando o chamado “estresse oxidativo”, que induz doenças como a aterosclerose.

Com esses resultados, os pesquisadores concluíram que a modulação da microbiota intestinal pode contribuir para os benefícios cardiovasculares do consumo moderado de vinho tinto.

“Quando o assunto é aterosclerose, temos basicamente duas vias de tratamento: uma é usar estatinas, medicamentos que diminuem os eventos cardiovasculares, e a outra é modificar o estilo de vida, praticando exercícios, evitando o tabagismo, cuidando de fatores de risco, como hipertensão, e controlando a dieta – e isso inclui o consumo moderado de vinho”, diz Protásio Lemos da Luz, professor do Instituto do Coração (InCor) da USP que estuda os efeitos do vinho tinto há mais de 20 anos.

Os pesquisadores, no entanto, alertam que o consumo excessivo de álcool, isto é, maior do que 30 gramas [no caso do vinho, 250 ml] por dia, é maléfico e está associado a aumentos na mortalidade por cânceres, acidentes e mortes violentas.