Estudo indica relação entre saúde bucal e demência

Pesquisadores examinaram se doenças gengivais e infecções por bactérias orais estavam ligadas a diagnósticos de demência e mortes

Um estudo liderado pelos cientistas do National Institute on Aging (NIA) traz luz a uma preocupante conexão entre a saúde bucal e o desenvolvimento de demência, incluindo a doença de Alzheimer. A pesquisa, que foi publicada no  Journal of Alzheimer’s Disease, mostra que bactérias associadas a doenças gengivais podem também estar ligadas a esses estados degenerativos da saúde mental.

Nossa boca é um ecossistema abrigando cerca de 700 espécies de bactérias com maioria benigna. Entretanto, algumas delas podem causar doenças periodontais que, se não forem devidamente tratadas, podem levar a consequências mais sérias como sangramento nas gengivas, dentes soltos e até perda dentária.

Cientistas descobrem relação entre saúde bucal e risco de demência
Créditos: lucigerma/istock
Cientistas descobrem relação entre saúde bucal e risco de demência

Como a saúde bucal afeta a saúde cerebral

A ligação entre as condições bucais e a demência vem da forma como as bactérias e as moléculas inflamatórias causadas por elas viajam. Esses micro-organismos e suas substâncias podem sair da boca e acessar a corrente sanguínea, chegando a outras partes do corpo, como o cérebro. Assim, estudos laboratoriais anteriores apontaram que tal mecanismo poderia ter um papel fundamental no desenvolvimento de demências, mas ainda faltava a realização de pesquisas mais abrangentes com humanos para confirmar essa hipótese.

O estudo e seus achados

Para decifrar essa questão, a equipe de pesquisa do NIA analisou dados de mais de 6.000 participantes ao longo de 26 anos em relação a diagnósticos de demência, morte e presença de infecções bucais. Os participantes foram submetidos a exames odontológicos, bem como exames de sangue, para detectar a presença de anticorpos contra as bactérias bucais relacionadas à doença gengival.

A análise verificou a associação entre antigas infecções orais por 19 diferentes bactérias e o diagnóstico de Alzheimer ou qualquer tipo de demência. Na avaliação desses 19 micro-organismos, Porphyromonas gingivalis se destacou como o mais conectado aos problemas de saúde bucal e cognitiva.

Este agente patogênico, associado ao desenvolvimento de doenças gengivais, tem sido, inclusive, protagonista de outros estudos que sugerem que a proteína beta-amiloide, considerada um dos principais indicadores da doença de Alzheimer, pode ser produzida em resposta a infecções causadas por este micro-organismo.

Apesar dos indícios desta conexão, os pesquisadores salientam a necessidade de estudos adicionais para confirmar a casualidade na relação entre infecções orais e o desenvolvimento ou sintomas de demência. Eles destacam a importância de testes clínicos para avaliar se o tratamento de infecções por P. gingivalis pode ser efetivo na mitigação ou prevenção dessas condições degenerativas.