Estudo publicado pela Nature revela por que é tão difícil manter o peso perdido

Estudo intrigante destaca que dificuldade em manter o peso perdido não é apenas uma questão de disciplina

Por André Nicolau em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
21/04/2025 18:00

Estudo destaca que a dificuldade em manter o peso perdido não é apenas uma questão de disciplina ou força de vontade – iStock/puhimec
Estudo destaca que a dificuldade em manter o peso perdido não é apenas uma questão de disciplina ou força de vontade – iStock/puhimec - iStock/puhimec

Muitas pessoas embarcam na jornada do emagrecimento apenas para se deparar com um obstáculo frustrante: o famoso “efeito sanfona”. Mesmo depois de eliminar quilos indesejados com dietas rigorosas e treinos disciplinados, a balança volta a subir como se houvesse um “padrão secreto” ditando o destino do corpo. Mas e se esse padrão estivesse escondido nas próprias células de gordura?

Um estudo recente publicado na prestigiada revista Nature revelou um conceito intrigante: as células de gordura possuem uma “memória biológica”, uma espécie de roteiro interno que dificulta a manutenção do peso perdido.

O que os cientistas descobriram?

Pesquisadores analisaram o tecido adiposo de indivíduos antes e depois de cirurgias bariátricas e compararam os resultados com pessoas que nunca haviam enfrentado a obesidade. O que encontraram foi surpreendente: mesmo após uma perda significativa de peso, as células de gordura carregavam mudanças epigenéticas, alterações na expressão dos genes que ocorrem sem modificar o DNA em si.

Essa memória epigenética faz com que as células adiposas “se lembrem” de seu estado anterior, tornando-se altamente eficientes na absorção de nutrientes e predispostas a crescer rapidamente quando expostas a um ambiente calórico farto. Esse mecanismo explica por que tantas pessoas recuperam o peso tão rapidamente após um período de emagrecimento.

Como essa “memória” influencia o corpo? O impacto dessa memória é profundo: as células de gordura se tornam verdadeiras “esponjas calóricas”, armazenando energia de maneira extremamente eficiente e crescendo de forma acelerada.

Em experimentos com camundongos, os cientistas observaram que, depois de perder peso, os animais voltaram a engordar em tempo recorde ao receberem uma dieta rica em calorias.

A persistência dessas alterações epigenéticas sugere que a batalha contra a obesidade é muito mais complexa do que apenas reduzir calorias e aumentar o gasto energético. Trata-se de uma verdadeira “memória corporal” que age como uma barreira invisível ao emagrecimento sustentável.

É possível reverter essa memória?

As mudanças epigenéticas observadas nas células adiposas podem persistir por anos. Em humanos, foram identificadas até dois anos após cirurgias bariátricas, enquanto em camundongos a persistência foi de cerca de oito semanas. Estudos sugerem que pode levar até uma década para que essas alterações desapareçam completamente, o que equivale ao tempo de vida médio de uma célula adiposa.

Futuro do tratamento da obesidade

Compreender essa memória biológica abre caminho para novas abordagens no tratamento da obesidade. Os cientistas estão explorando formas de reprogramar ou até mesmo apagar essa memória celular, o que poderia revolucionar a forma como lidamos com o reganho de peso.

Enquanto essas soluções não chegam, é essencial entender que a dificuldade em manter o peso perdido não é apenas uma questão de disciplina ou força de vontade. Trata-se de um desafio biológico real que exige estratégias de longo prazo e acompanhamento profissional para ser superado.

Em outras palavras, a batalha contra a balança não é só sobre quantas calorias entram e saem do corpo – é também sobre entender e reprogramar a história que as nossas próprias células insistem em contar.