Existe um número de amigos ideal para ter e ser feliz? A ciência responde

Nos Estados Unidos, o percentual de adultos que declararam não ter um amigo íntimo quadruplicou em pouco mais de uma década

Por André Nicolau em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
15/05/2025 15:45 / Atualizado em 25/05/2025 16:46

Nos Estados Unidos, o percentual de adultos que declararam não ter um amigo íntimo quadruplicou em pouco mais de uma década – iStock/andreswd
Nos Estados Unidos, o percentual de adultos que declararam não ter um amigo íntimo quadruplicou em pouco mais de uma década – iStock/andreswd - Getty Images

Por que falar de amizade agora? Porque nunca foi tão fácil enviar um emoji e, ao mesmo tempo, sentir o eco da solidão.

O número de amigos tem caído vertiginosamente. Nos Estados Unidos, o percentual de adultos que declararam não ter um contato íntimo quadruplicou em pouco mais de uma década (3 % em 2008 para 12 % em 2021). Entre as mulheres, o salto foi ainda mais acentuado.

O fenômeno acende um holofote sobre algo que passa despercebido nas planilhas de produtividade: ter com quem contar.

O que os estudos (ainda poucos) nos contam

Quantos amigos “bastam”?

Média de 3 – 6 laços íntimos aparece na maioria dos levantamentos.

Existe um teto para conexões?

A teoria do “número de Dunbar” sugere 150 relacionamentos ativos no total, sendo só 5 bem profundos.  

Quanto tempo cria intimidade?

Aproximadamente 200 h de convivência marcada por abertura e presença (Jeffrey Hall, Univ. do Kansas).

Quando a qualidade supera a contagem

Saúde física: Um estudo de 2016 com mais de 3000 adultos mostrou que o número de amigos é vital para a saúde.  Quem tem seis (ou mais) bons amigos tem menores índices de pressão arterial e níveis inflamatórios.

Bem-estar na meia-idade: Pesquisadoras australianas observaram, em 2020, que mulheres com ao menos três amizades sólidas relatavam mais satisfação geral – mesmo controlando renda, estado civil e escolaridade.

Os pesquisadores são unânimes: a profundidade do vínculo pesa mais que a soma de nomes na agenda. Amizade não é coleção; é manutenção.

Estudos indicam que cerca de 50% dos brasileiros se sentem solitários, segundo dados do Instituto Ipsos – iStock/klebercordeiro
Estudos indicam que cerca de 50% dos brasileiros se sentem solitários, segundo dados do Instituto Ipsos – iStock/klebercordeiro - iStock/klebercordeiro

Sinais de alerta

  • Você percebe dias inteiros sem conversa fora do trabalho.
  • A solidão persiste mesmo cercado de gente.
  • Adia convites porque “não vai ter assunto”.
  • Na pandemia, um em cada três norte-americanos descreveu sentir “solidão severa”. Reconhecer esses gatilhos é o primeiro passo antes de abrir espaço para novas conexões.

Adulto ocupado, coração apertado: dá para reverter?

Falta de tempo – Transforme rotinas em encontros: caminhe ou faça mercado com um amigo.

Distância geográfica – Reative amigos antigos com áudios de dois minutos – curtos o bastante para caber na agenda, longos o suficiente para sinalizar cuidado.

Timidez ou introversão – Busque grupos de interesse (clube do livro, aula de cerâmica). O tema comum reduz a fricção do primeiro contato.

O que fica

Não há receita universal: algumas pessoas florescem com um círculo íntimo de três amigos; outras precisam de uma mesa cheia aos domingos. Importa mesmo é ter, ao menos, alguém que saiba ler seus silêncios.

Em um mundo que mede sucesso por seguidores, vale lembrar que satisfação se mede em horas compartilhadas, telefonemas espontâneos e a certeza de que, se o chão ceder, há braços prontos para segurar.

Amizade é estatística? Só até a página dois. Daí em diante, vira história – a sua e a de quem escolheu ficar.

Estudo de Harvard revela qual a importância de uma amizade para a saúde

A importância de cultivar amizades com pessoas mais velhas vai além da simples troca de experiências; é uma oportunidade valiosa de aprendizado e crescimento pessoal.

É o que sugere o estudo Harvard Study of Adult Development, desenvolvido pela centenária instituição de Massachusets, que acompanhou a vida de centenas de pessoas ao longo de mais de 80 anos.