Fazer exercício físico de forma punitiva é perder o prazer de se mexer

O ato de compensar a alimentação com atividade física pode ainda agravar questões alimentares transtornadas

As atividades físicas estão presentes em nossas vidas desde as brincadeiras da infância, passando pela escola e, para muitos, seguindo até a vida adulta. Mas algo fundamental parece se perder com tempo: o prazer de praticar exercício físico. Infelizmente, é muito comum – além de socialmente aceito – trocar o contentamento de se exercitar pelo peso da obrigatoriedade em realizar atividades físicas, geralmente relacionando o ato do exercício a uma potencial compensação do que se come. Ao fazer isso, ficamos mais distantes de práticas físicas verdadeiramente saudáveis.

O ato de compensar a alimentação é bastante frequente em casos de transtornos alimentares, marcados por grave insatisfação e persistente sofrimento em relação à forma física e ao peso corporal. Utilizar-se da atividade física como meio de queimar calorias perpetua e pode até agravar as questões alimentares transtornadas.

Culpa e arrependimento relacionados ao ato de comer já significam um problema sério por si só e que deve ser tratado; quando aliados à necessidade de se livrar daquilo que foi ingerido via exercícios físicos, tem-se um possível sinal de alerta máximo.

Utilizar-se da atividade física como meio de queimar calorias pode agravar as questões alimentares transtornadas
Créditos: Pollyana Ventura/istock
Utilizar-se da atividade física como meio de queimar calorias pode agravar as questões alimentares transtornadas

Devemos buscar praticar exercícios físicos de maneira semelhante à forma como frequentemente se faz na infância, ou seja, por meio de atividades que gerem prazer, e nas quais o ato de se movimentar seja pautado primeiramente pelo desejo, sem preocupação com a quantidade de energia gasta.

Se feito dessa maneira, as chances de se tornar um hábito são maiores, perpetuando os benefícios da prática. Para aqueles que se exercitam por obrigação, é comum a alternância de períodos marcados por treinos frequentes e intensos com outros de puro sedentarismo. Isso é, no fundo, intuitivo: aquilo que fazemos com prazer tende a se consolidar; aquilo que fazemos por obrigação, por ser um fardo, tende a ser inconstante e doloroso.

Não há maneira melhor de estar conectado ao corpo que por meio de exercícios físicos. E não há forma mais adequada de manter uma boa relação com o corpo do que praticando alguma atividade física de qualidade, respeitando gostos e limites pessoais. Se você usa a prática de exercícios de maneira punitiva – ou o contrário, não pratica exercícios -, convido a refletir sobre a importância de mexer o corpo de modo prazeroso.

Exercícios físicos não podem ser vistos como meio para compensar nada; eles são um fim em si mesmo: geram prazer, bem-estar, conexão com o corpo e ajudam, por consequência, na manutenção de uma vida mais saudável.

Texto escrito pela nutricionista Marcela Kotait.