Leite materno é vida: conheça sua composição e seu poder
Leite materno é vida. Sempre falamos aqui sobre a importância do aleitamento e, recentemente, trouxemos uma pesquisa mostrando que cerca de 820 mil mortes infantis poderiam ser evitadas se as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) fossem devidamente seguidas – aleitamento exclusivo até os seis meses de vida, em livre demanda, e complementado até os dois anos da criança.
Mas afinal, o que tem de tão rico no leite materno? Grande parte do composto é água, especialmente no início da mamada. À medida que o bebê mama, o leite vai se tornando cada vez mais gorduroso.
Além de água e gordura, há vitaminas, açúcares, substâncias anti-inflamatórias, sais minerais, células-tronco, microRNA e muitos outros componentes. O leite materno é considerado também a primeira vacina do bebê, já que a mãe transmite a ele todos os anticorpos que precisa.
O mais louco de tudo isso é que a composição deste leite vai sofrendo mutações de acordo com o crescimento e a saúde da criança: se, por exemplo, ela tiver uma infecção, ele trará anticorpos e substâncias estimulantes do sistema imunológico.
Novos estudos na área de epigenética investigam a capacidade de o leite influenciar até a forma como nossos genes efetivamente se expressam. O ‘tetê’ é, então, a medicina mais personalizada que existe.
Victora, professor emérito na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), liderou, na década de 1980, o primeiro estudo do mundo a mostrar que a amamentação exclusiva (sem chazinho, sem água) até os seis meses de idade reduz em 14 vezes o risco de morte por diarreia e em 3,6 vezes o risco de óbito por infecções respiratórias.
Isso acontece por duas razões: primeiro que o estômago do bebê é muito pequeno, ou seja, se entram outros líquidos, perde-se espaço para o leite. A outra razão é justamente isso que explicamos, o poder de proteção.
Sabe-se hoje também que os benefícios da amamentação se prolongam por toda vida, não se manifestam apenas na infância – leia a matéria que publicamos aqui a respeito deste estudo.
É importante destacar também que a amamentação não faz bem só para os pequenos, mas para as mães. A ciência vem mostrando que elas ficam mais protegidas contra o câncer de ovário e de mama.
A cada ano que a mulher amamenta, o risco de que venha a desenvolver câncer de mama cai 6%. Segundo o American Institute for Cancer Research, isso ocorre porque a lactação induz um padrão hormonal único associado a um período de amenorreia (ausência de menstruação), o que reduz a exposição da mulher a variações hormonais associadas a esse tipo de tumor.
Amamentar ajuda ainda a recuperar o peso depois da gravidez e facilita a superação da depressão pós-parto, como afirmou a pediatra Honorina de Almeida à Super Interessante.
Diante de tantos benefícios e motivos para ser favorável à amamentação, surgem algumas perguntas, como: se é de graça e faz tão bem, por que menos de 40% dos bebês de países em desenvolvimento recebem aleitamento exclusivo até os seis meses?
Segundo a II Pesquisa de Prevalência do Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e DF, de 2009, o tempo médio de aleitamento exclusivo no Brasil é de 54,1 dias — menos de dois meses. Hoje, para que a mulher siga amamentando, falta rede de apoio, falta incentivo. A maternidade é, cada vez mais, uma experiência individual e nada coletiva. As responsabilidades, atribuições e culpas sobre as mães são muitas e constantes.
Hoje as famílias têm menos filhos, assim, é provável que a mulher que se torna mãe hoje não tenha convivido com outras lactantes, não conte com o suporte direto de outras mulheres da família e viva a experiência da amamentação apenas uma vez em toda a vida. Além disso, entra no meio a licença-maternidade, por lei, de apenas quatro meses.
Os profissionais da saúde acabam sendo fonte de informação para essas mulheres, mas nem sempre eles são devidamente preparados para das atenção a este assunto e para orientar as puérperas.
Somado a isso, existe a participação da indústria farmacêutica e alimentícia no que se refere ao aleitamento: “Existe muita pressão sobre os pediatras, que recebem patrocínios de viagens, congressos, conferências. Embora os médicos não admitam, há, sim, uma influência perniciosa que não pode ser ignorada” – completa Cesar Victora.
No ano 2000, as vendas globais de fórmulas substitutas do leite materno totalizavam US$ 18,6 bilhões. Em 2014, esse número chegava a US$ 44,8 bilhões. O valor projetado para o ano de 2019 é de — atenção — US$ 70,6 bilhões.
- Amamentação de Sucesso
Um dos fatores que desestimula as mulheres a amamentarem é a dificuldade, as dores, fissuras no mamilo. Tudo isso acontece em virtude da pega incorreta do bebê, e poderia ser evitado se as mulheres, antes mesmo de darem à luz ou na maternidade, fossem devidamente instruídas sobre como amamentar.
A pega correta é quando o bebê abre bem a boca e coloca a língua para fora, de modo a abocanhar grande parte da aréola. Quando o recém-nascido persiste em uma pega errada, acaba machucando a mãe e não consegue retirar o leite que precisa. Irritado e faminto, não desgruda do peito, ferindo ainda mais os mamilos. E assim se inicia um círculo torturante para o bebê e, especialmente, para a mãe.
Confira abaixo o infográfico da Super Interessante ilustrando a pega correta. Se continuar com dúvida ou dificuldade, procure uma consultora de amamentação.
Para ler a matéria completa, clique aqui.
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