Médica descobre câncer no pulmão mesmo sem ser fumante

Karina Fontão, uma pneumologista que teve sua vida transformada ao se tornar paciente de câncer de pulmão

Karina Fontão, pneumologista, recorda vividamente o momento em que recebeu o envelope com o diagnóstico de câncer de pulmão. “Desabei, esqueci tudo o que sabia sobre medicina oncológica”, relata. A partir daquele momento, a médica teve que lidar com uma nova realidade: passou a ser paciente.

Médica descobre câncer no pulmão mesmo sem ser fumante
Créditos: Arquivo pessoal
Médica descobre câncer no pulmão mesmo sem ser fumante

Médica descobre câncer no pulmão sem ser fumante

Com apenas 50 anos, Karina não se enquadrava no perfil típico dos pacientes diagnosticados com câncer de pulmão. A maioria dos casos, cerca de 80%, está relacionada ao tabagismo, seja ativo ou passivo. Surpreendentemente, a médica nunca havia fumado e mantinha uma rotina de exercícios rigorosa, correndo regularmente 21 quilômetros.

“Foi um susto tremendo. Nunca tive hábitos ruins, sou corredora, pratico trapézio, faço musculação e, ainda assim, tive câncer. Aprendi com essa jornada que não podemos pressupor que a doença está relacionada sempre aos maus hábitos. Tive, mesmo levando uma vida saudável”, relatou ao site Metrópoles.

O desenvolvimento do câncer foi atribuído a fatores genéticos. O pai de Karina havia sido diagnosticado com câncer de próstata antes dos 50 anos, o que já mantinha a família em alerta. No entanto, Karina presumia que o tumor mais provável de ocorrer seria na mama.

Descoberta durante mamografia

“Durante a mamografia, meu médico disse que havia uma lesão no pulmão. Eu, como pneumologista, disse para ele não se preocupar, que deveria ser uma cicatriz de uma tuberculose assintomática, que acontece com muitas pessoas”, disse a médica.

Após a insistência do médico, Karina prosseguiu com as investigações e a biópsia revelou a presença de um adenocarcinoma em estágio 1, o estágio inicial mais suave da doença. No início de 2022, a pneumologista passou por uma cirurgia na qual foram removidos 2,3 cm da parte superior do pulmão.

Para reduzir as chances de recorrência do câncer, ela iniciou o tratamento quimioterápico com um medicamento chamado Tagrisso, uma evolução de outro medicamento que ela estava familiarizada, pois havia participado como médica nas pesquisas de desenvolvimento. “Às vezes, esqueço que tive esse câncer. É na hora de tomar o remédio que me lembro”, afirma.

“Parece coisa de destino que eu tenha me dedicado tantos anos a entender o câncer de pulmão e que tenha acontecido comigo justamente um tumor neste órgão. Mas aprendi muito com a doença. O câncer de pulmão tem um estigma muito grande. Eu mesma tive vergonha de contar aos meus colegas, pensei em tirar férias para fazer a cirurgia e não contar a ninguém”, diz ela.

O que aconteceu com a paciente?

A origem genética foi responsável pelo câncer de Karina. Durante sua jornada enfrentando a doença, ela descobriu que possui a síndrome de Li-Fraumeni (SLF), uma mutação no gene TP53 que aumenta o risco de desenvolver tumores. Estimativas indicam que aproximadamente 300 mil pessoas no Brasil carregam essa mutação, embora nem todas desenvolvam câncer.

Pacientes com essa síndrome têm maior predisposição para desenvolver câncer em idade precoce, antes dos 50 anos, porém muitos não sabem que possuem essa alteração genética. “Infelizmente, realizar uma avaliação molecular que permita identificar a origem do câncer é difícil, burocrático e caro”, afirma Karina.

No entanto, graças à descoberta de sua condição, a médica convenceu seus familiares a realizar testes genéticos para avaliar sua propensão ao problema. “Ao saber, podemos ficar mais atentos. Por exemplo, eu farei uma mastectomia preventiva para evitar o surgimento de cânceres no futuro”, conclui a pneumologista.