Partículas invisíveis, danos reais: microplásticos podem afetar cérebro e saúde mental

Estudos revelam presença de microplásticos no cérebro humano e apontam possível relação com aumento de casos de depressão e demência

Por Caroline Vale em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
06/06/2025 10:03 / Atualizado em 24/06/2025 22:31

Os microplásticos são partículas com menos de 5 milímetros que estão cada vez mais presentes em diversos ambientes, inclusive em alimentos consumidos diariamente.

Microplásticos e saúde mental.
Microplásticos e saúde mental. - iStock/Andrzej Rostek

A preocupação cresce com novos estudos que indicam que essas partículas não apenas circulam pelo organismo, mas também podem atingir o cérebro humano.

Descobertas sobre microplásticos no cérebro

Pesquisadores das universidades de Ottawa, Toronto, Loma Linda e Deakin identificaram que pessoas com diagnóstico de demência apresentavam de três a cinco vezes mais microplásticos no cérebro em comparação com pessoas sem a doença.

Em média, foi detectada uma quantidade equivalente a uma colher de chá dessas partículas nos tecidos cerebrais analisados.

Os resultados, publicados na revista Brain Medicine, sugerem que os microplásticos conseguem ultrapassar a barreira hematoencefálica — uma espécie de filtro que protege o cérebro de substâncias tóxicas — e se acumular em áreas delicadas do sistema nervoso central.

Como essas partículas afetam o funcionamento do cérebro?

A atuação dos microplásticos no organismo parece ocorrer por vias já conhecidas por afetarem a saúde mental.

Os estudos apontam que eles provocam inflamação, estresse oxidativo, danos às mitocôndrias (estruturas responsáveis pela produção de energia nas células) e alterações em neurotransmissores, mecanismos que também estão envolvidos no desenvolvimento de transtornos, como depressão e doenças neurodegenerativas.

A presença de microplásticos nos alimentos está diretamente relacionada ao grau de industrialização. Produtos ultraprocessados, que ocupam grande parte da dieta em muitos países, acumulam muito mais partículas plásticas do que alimentos in natura.

Um exemplo citado nos estudos mostra que nuggets de frango podem conter até 30 vezes mais microplásticos por grama do que um peito de frango fresco.

Isso acontece, principalmente, devido ao contato com plásticos durante o processamento, embalagem e armazenamento.

Existe alguma forma de remover os microplásticos do corpo?

Pesquisadores também investigam possíveis formas de eliminar essas partículas do organismo.

Uma das possibilidades em análise é a aférese terapêutica, técnica já usada em tratamentos médicos que consiste em filtrar o sangue fora do corpo.

Ainda em fase inicial, essa abordagem busca entender se o método pode ser eficaz contra os microplásticos.

Embora precisemos reduzir nossa exposição a microplásticos por meio de melhores escolhas alimentares e alternativas de embalagens, também precisamos pesquisar como remover essas partículas do corpo humano“, dizem os autores do estudo liderado pelo Dr. Stefan Bornstein, que investiga a aférese terapêutica.

A descoberta foi considerada um marco nas discussões sobre o impacto da poluição ambiental na saúde humana. Especialistas reforçam a necessidade urgente de políticas públicas que limitem a exposição a microplásticos, além da criação de um índice que permita mensurar a presença dessas partículas na alimentação da população.