O que é mistanásia e qual a sua relação com o caso da Prevent Senior
CPI avalia a conduta da Prevent durante a pandemia do novo coronavírus
Nas últimas décadas, o debate sobre a eutanásia (do grego “boa morte”) esteve presente em diversos países. Esse conceito tanatológico (relativo à morte) se refere ao ato de provocar intencionalmente a morte a um paciente cujo quadro clínico causa sofrimento físico e psicológico e é irreversível.
Para lidar com casos dessa natureza, quando as leis não permitem a abreviação do sofrimento com a morte assistida, a medicina costuma adotar os chamados cuidados paliativos, procedimentos que aliviam os sintomas e o sofrimento do paciente.
A mistanásia é o oposto da eutanásia: é o afastamento da “boa morte”. Esse conceito é usado quando, por omissão, negligência ou incompetência, um ser vivo sofre mais do que o necessário quando está em uma condição que pode levar a óbito.
Quando um indivíduo é submetido a um tratamento medicamentoso notoriamente ineficaz, quando um paciente é retirado da UTI antes do período necessário para o seu restabelecimento, quando uma pessoa não tem acesso a oxigênio em meio a uma pandemia, fala-se em mistanásia.
A Prevent Senior, se ficar comprovado as acusações ouvidas na CPI, agiu conforme a definição de mistanásia.
Dossiê Prevent Senior
Um dossiê produzido por médicos e ex-funcionários da Prevent Senior foi entregue à CPI da Covid. O documento relata que vítimas do novo coronavírus tiveram certidões de óbito alteradas para mascarar o número de mortes pela doença e que pessoas foram usadas em tratamentos experimentais.
A pesquisa realizada Prevent Senior, apoiada por Jair Bolsonaro (sem partido), foi divulgada nas redes bolsonaristas para a defesa da prescrição médica de remédios sem eficácia comprovada no combate à covid-19, como o “Kit Covid”.
Nove pacientes que foram usados como cobaias morrem nos testes, mas apenas dois óbitos constam no relatório final.
Depois de a denúncia ser divulgada, outras acusações contra a Prevent surgiram.
Carlos Vusberg, policial militar aposentado de 84 anos, internado com o novo coronavírus pouco antes da Páscoa, estava com braços e pernas amarrados, com máscara de oxigênio e sem sedação em um hospital da Prevent Senior. Segundo o neto de Carlos, o advogado Leandro Vusberg, de 36 anos, ele estava sem fôlego e agitado.
O idoso tinha recebido alta da UTI, mas a família alega que ele não havia melhorado. O paciente morreu dois dias depois da visita do neto.
Em outro episódio, o jornalista Diogo Mainardi revelou que a Prevent tentou ocultar a covid-19 da morte de seu pai, o publicitário, jornalista e escritor Enio Mainardi. Ele morreu em agosto de 2020, aos 85 anos, por complicações causadas pelo novo coronavírus.