Não é o tempo de tela: 3 fatores que realmente alimentam o vício em redes sociais
Nova pesquisa revela que o problema não é o tempo online, mas três fatores emocionais que tornam adolescentes mais vulneráveis ao vício digital
Uma nova pesquisa internacional publicada na revista PLOS One desafia uma das crenças mais difundidas entre pais, escolas e especialistas: a ideia de que o tempo de tela é o principal vilão por trás do vício em redes sociais. Após acompanhar mais de 400 adolescentes por sete meses, pesquisadores descobriram que não é o número de horas online que define quem se torna dependente digital — e sim três fatores psicológicos ignorados.
O tempo online não é o culpado
Durante o estudo, adolescentes de 13 a 18 anos compartilharam dados reais extraídos dos sistemas de rastreamento de seus celulares. Isso permitiu aos cientistas observar comportamentos concretos, e não suposições. A análise revelou três grupos distintos:
- Usuários saudáveis (58%): usavam redes sociais regularmente, mas sem dependência.
- Usuários engajados (16%): passavam até 6h por dia no Instagram, mas mantinham controle da vida offline.
- Usuários vulneráveis (26%): com 5h de TikTok e 3h de Instagram diárias, tinham dificuldades para parar, sentiam ansiedade longe do celular e sofriam prejuízos escolares e sociais.
Curiosamente, alguns adolescentes do grupo engajado passavam mais tempo conectados do que os do grupo vulnerável, mas não apresentavam sinais de vício. Isso reforça que o tempo de tela, por si só, não determina a gravidade do uso.

Os 3 fatores que alimentam o vício digital
Os pesquisadores identificaram três elementos fundamentais que preveem o uso problemático de redes sociais em adolescentes:
- Baixo apoio social no mundo real
Jovens que não se sentem amparados por amigos e familiares estão mais propensos a buscar refúgio nas redes sociais de forma prejudicial.
- Alta comparação social
Adolescentes que se comparam constantemente com os outros em termos de aparência, popularidade ou sucesso são mais vulneráveis à frustração e ao uso excessivo das mídias.
- Intensidade de uso (não o tempo)
O fator de risco está em como o adolescente interage com múltiplas plataformas e a frequência com que se engaja — curtidas, mensagens, respostas — e não apenas nas horas gastas rolando a tela.
O estudo também apontou que meninas apresentaram maior propensão ao uso problemático das redes sociais do que os meninos, destacando a necessidade de um olhar mais atento sobre o impacto emocional da vida digital no público feminino.
Os hábitos digitais são duradouros
Ao longo dos sete meses, os padrões identificados se mantiveram estáveis. Isso significa que adolescentes que desenvolveram uma relação tóxica com as redes não mudaram de comportamento espontaneamente, sugerindo que intervenções precoces são essenciais.
Mais que limites: conexões reais
A conclusão do estudo é clara: bloquear apps ou reduzir o tempo de tela pode não ser suficiente. Em vez disso, os pais devem avaliar o nível de apoio emocional dos filhos, suas relações presenciais e como eles se veem diante dos outros.
A internet veio para ficar, e criar muros ao redor da tecnologia não vai proteger os jovens. O foco deve ser em fortalecer vínculos, promover autoestima e desenvolver habilidades emocionais. Só assim será possível transformar o uso das redes sociais em algo saudável e não um vício silencioso.