‘O desenvolvimento da criança não é uma meta a ser atingida’

É inegável que neurociência, a pedagogia, a psicopedagogia e outras áreas têm incrementado de forma considerável o conhecimento que se tem sobre a chama primeira infância, fase que vai da gestação aos seis primeiros anos da criança. Porém, junto com o conhecimento, pode vir também a ansiedade. Afinal, se a ciência considera como padrão normativo um bebê começar a falar até os três anos, os que ultrapassam esse tempo despertam inseguranças e receios.

Quando meu filho vai começar a andar? Com que idade ele vai falar? Esses e outros questionamentos são muito comuns entre os pais e cuidadores. Mas, para além da ansiedade e da tendência à comparação dos adultos, por que é importante conhecer cada fase do desenvolvimento de uma criança? Para que elas de fato servem e o que elas revelam sobre a saúde dos pequenos?

Em entrevista ao site Macetes de Mãe, Ale Palazzin, fisioterapeuta e uma das autoras do Tempo Mágico, blog focado em desenvolvimento infantil, comenta o assunto.

“A questão é que para pediatras e outros profissionais da área da saúde, saber com que idade aquela a criança atingiu os famosos “marcos motores” de fato é uma forma mais objetiva de acompanhar o seu desenvolvimento, uma vez que eles não podem observa-la diariamente. No entanto, para nós, enquanto pais, considerar apenas esses parâmetros (o dos marcos motores), muitas vezes, leva a uma certa “competitividade” (pelos frequentes questionamentos do tipo: “seu filho ainda não senta?”), a uma maior ansiedade e, principalmente, a uma dificuldade em respeitarmos (e valorizarmos) o processo do desenvolvimento daquela criança especificamente”, pondera Ale.

A profissional explica que não se trata de desconsiderar os chamados “marcos motores” da vida da criança, e sim de saber como utilizar essas informações para o bem dela. Por exemplo, se a criança ainda não fala mesmo já estando nesta fase de seu desenvolvimento, a família pode repensar como vem estimulando essa prática, se a criança passa muito tempo sozinha, se os estímulos que ela recebe contribuem para a ampliação da linguagem oral. E, claro, o acompanhamento de um profissional é bem-vindo se há suspeita de limitações sistêmicas, como problemas fonoaudiológicos, por exemplo.

“Conhecer as etapas do desenvolvimento “normal” e quais as habilidades que cada criança geralmente apresenta em cada idade facilita a interação entre pais e filhos”, explica a fisioterapeuta.

“O resultado disso é que há uma maior preocupação em, por exemplo, buscar estratégias para ajudar o filho a se sentar sozinho ou a andar rapidamente (sem saber se ele já está de fato preparado para isso) em vez de, por exemplo, buscar oferecer um ambiente mais propício para o aprendizado ou, então, auxiliar a criança numa tarefa desafiadora sem tirar sua autonomia.”

Para a fisioterapeuta, a única regra aqui é que os pais estejam presentes na vida da criança, acompanhando de perto quais são suas dificuldades e potências, de modo a estimulá-la da forma mais efetiva.

“Saber o que nosso filho está apto fazer (do ponto de vista neurológico) ou está prestes a aprender em cada etapa (não apenas do ponto de vista motor mas em todas as áreas), não deveria  ser encarado com tanta pressão. Não deveria se ver isso como uma “meta a ser atingida”. Esse conhecimento deveria  servir como um alerta acerca das mudanças às quais podemos/devemos ficar mais atentos (do que devemos observarmos em cada fase e assim conhecermos melhor o nosso bebê) e, principalmente, servir como um incentivo para oferecermos um ambiente mais favorável a todo esse aprendizado (e entenda-se por ambiente não apenas o espaço físico, mas todas as experiências de aprendizagem).”

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