O procedimento estético que aumenta as chances de câncer em 16 vezes

Pesquisa mostra que mulheres com um tipo de mutação que colocam implantes mamários texturizados correm risco maior de desenvolver um linfoma raro

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
23/06/2025 12:00

Risco é significativo especialmente para mulheres com mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2
Risco é significativo especialmente para mulheres com mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2 - andreswd/istock

Um estudo financiado pelo governo dos Estados Unidos acaba de acender um sinal de alerta para milhões de mulheres: implantes mamários texturizados podem aumentar em até 16 vezes o risco de desenvolver um tipo raro de câncer do sangue, conhecido como linfoma anaplásico de grandes células associado a implantes mamários (BIA-ALCL).

O risco é significativo especialmente entre mulheres com mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2.

A descoberta foi publicada na revista científica Blood Advances e se baseia no acompanhamento de 3.000 sobreviventes de câncer de mama que realizaram mastectomia dupla e optaram por reconstrução mamária com implantes. Entre as 520 pacientes testadas geneticamente, 43 possuíam mutações BRCA. E foi nesse grupo que os pesquisadores encontraram um risco 16 vezes maior de desenvolver o linfoma.

O que é o BIA-ALCL e por que os implantes texturizados são o foco do estudo?

O BIA-ALCL é um tipo de linfoma de células T que se desenvolve no tecido cicatricial ao redor dos implantes mamários. Embora ainda considerado raro, o número de casos está crescendo. O FDA (Agência de Alimentos e Medicamentos dos EUA) relatou, até 2023, 1.264 casos confirmados e 63 mortes.

Esse tipo de câncer parece estar relacionado aos implantes com superfície texturizada, que apresentam uma textura áspera semelhante a uma lixa. Essa superfície pode acumular bactérias e formar biofilmes, desencadeando uma resposta inflamatória crônica que danifica o DNA das células e pode levar à formação de tumores malignos.

Quem está em maior risco?

Mulheres com mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 têm risco aumentado não apenas para câncer de mama e ovário, mas, como sugere este estudo, também podem estar mais vulneráveis ao BIA-ALCL após a colocação de implantes.

Embora a maioria das mulheres hoje receba implantes lisos, considerados mais seguros, milhões ainda vivem com implantes texturizados, utilizados com mais frequência em décadas anteriores. O silicone usado em alguns tipos de próteses também pode provocar inflamações que contribuem para o desenvolvimento da doença.

Material do implante pode desencadear uma resposta inflamatória crônica que danifica o DNA das células e pode levar à formação de tumores malignos
Material do implante pode desencadear uma resposta inflamatória crônica que danifica o DNA das células e pode levar à formação de tumores malignos - Searsie/istock

Sintomas e diagnóstico: o que observar

Os principais sintomas do BIA-ALCL incluem:

  • Inchaço persistente ou dor nos seios
  • Caroços ou nódulos ao redor do implante
  • Alterações no formato dos seios
  • Acúmulo de líquido ao redor da prótese

Caso esses sinais apareçam, é fundamental procurar um médico imediatamente. O diagnóstico precoce aumenta significativamente as chances de cura, e muitas vezes a remoção dos implantes é suficiente para controlar a doença.

Remover os implantes é necessário?

Segundo o FDA, a remoção preventiva dos implantes texturizados não é recomendada em mulheres assintomáticas. No entanto, o acompanhamento médico regular é essencial. Saber o tipo de implante que foi colocado é uma etapa importante para o monitoramento da saúde a longo prazo.

A Dra. Paula Ghione, líder do estudo e especialista em linfoma do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, alerta:

“Os implantes colocados hoje são teoricamente mais seguros, mas é vital que mulheres com implantes antigos estejam cientes dos riscos e informem seu histórico médico.”

Cirurgias estéticas e a importância da informação

Com mais de 300 mil implantes mamários realizados por ano nos EUA, os especialistas enfatizam a importância de informar-se sobre os riscos associados aos procedimentos estéticos, principalmente quando existe histórico familiar de câncer ou mutações genéticas.

O estudo reforça a necessidade de conversas abertas entre médicas e pacientes, especialmente no momento da decisão por uma cirurgia plástica reconstrutiva ou estética. Saber o histórico genético pode mudar completamente o caminho a ser seguido.