O que explica aumento de infartos entre mulheres de 15 a 49 anos
O alerta vem de um recente posicionamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)
Historicamente, o infarto tem sido um problema associado a homens e idosos. Porém, o número de mortes por infarto em mulheres, que tem entre 15 e 49 anos, está aumentando. E menos de 50% delas recebem o tratamento adequado para a condição.
Os alertas vêm de um recente posicionamento sobre a saúde do coração feminino lançado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
O documento chama a atenção para a falta de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento do ataque cardíaco entre o público feminino. Gláucia Maria Moraes de Oliveira, uma das coordenadoras do documento, ressalta que o infarto nas mulheres é “subdiagnosticado e subtratado”.
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“Além disso, os resultados desse infarto são ruins porque os desfechos são diferentes em homens e mulheres”, afirmou Gláucia.
Dados do posicionamento da SBC
De forma geral, o documento revela que o percentual da taxa de mortalidade por infarto no Brasil vem caindo de 1990 para 2019.
Porém, quando são analisados os números específicos entre o público feminino de 15 a 49 anos, que estariam supostamente mais protegidas pelos fatores hormonais, a taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares agudas subiu 7,6% entre 1990 e 2019.
Nos outros grupos, que incluem mulheres mais velhas e homens de todas as idades, essas taxas estão em queda.
O documento trouxe ainda outros dados relevantes, que incluem:
- mulheres apresentam maior frequência de fatores de risco cardiovasculares não tradicionais, como estresse mental e depressão;
- menos de 10% das mulheres têm os fatores de risco para as doenças coronarianas controlados;
- elas têm maior frequência de fatores de risco cardiovasculares inerentes ao sexo, como gravidez, menopausa;
- além disso, a prevalência de infarto do miocárdio sem obstrução arterial coronária também é maior nas mulheres.
O que explica o aumento dos casos entre mulheres jovens?
O posicionamento da SBC destaca que “as mulheres apresentam com maior frequência fatores de risco cardiovascular não tradicionais, como estresse mental e depressão, e sofrem as consequências das desvantagens sociais devido à raça, etnicidade e renda”.
O estresse e a saúde mental, inclusive, estão relacionados às doenças cardiovasculares. E, segundo vários estudos publicados ao longo dos últimos anos, as mulheres são mais afetadas pelo problema por questões hormonais, de violência, de gênero e traumas, além da rotina sobrecarregada.
A lista de fatores de risco cardiovasculares que acometem as mulheres inclui também o parto prematuro, menopausa, a doença hipertensiva da gestação, o diabetes gestacional, as doenças autoimunes e os tratamentos para doenças, como câncer de mama.
“As mulheres jovens são submetidas hoje a uma grande quantidade de fatores de risco que não tinham antes. Embora estejam fumando menos, há mais obesidade, mais sedentarismo, mais diabetes. E para além disso, elas têm uma carga emocional enorme, um estresse muito grande, uma dupla, tripla jornada de trabalho. Tudo isso propicia o aparecimento da doença isquêmica do coração”, destaca Gláucia.
Ainda segundo a SBC, diversos estudos têm demonstrado que as mulheres apresentam taxas menores de angioplastia e maiores de mortalidade hospitalar.
Sintomas e sinais de alerta
Ainda de acordo com Gláucia, o intuito do documento é aumentar a conscientização sobre a saúde cardiovascular das mulheres, propondo novos protocolos para uma maior atenção à doença, um melhor preparo dos profissionais da saúde e um melhor acesso ao tratamento.
Em relação aos sintomas, a SBC destaca que a dor torácica é um indicativo em toda a população, mas ressalta que as mulheres são mais propensas a apresentar sinais chamados de “atípicos”, como:
- náuseas;
- vômitos;
- dor nas costas e no pescoço;
- falta de ar;
- indigestão;
- ardência na pele;
- dor nos ombros, no rosto, na mandíbula;
- fadiga incomum;
- palpitações.
“Pedimos que essas mulheres busquem mais rapidamente auxílio, especialmente se elas tiverem fatores de risco, como tabagismo, obesidade, histórico na família de doença coronariana crônica, sedentarismo e hipertensão arterial. Essas informações também precisam chegar não só às mulheres e aos cardiologistas, mas a todos os médicos que cuidam de mulheres. E é preciso melhorar o acesso aos tratamentos, e que eles sejam oferecidos no tempo correto”, finaliza a cardiologista.
Com informações de O Globo.