O que faz da imunoterapia uma das principais armas contra o câncer

Tratamento estimula o organismo a produzir anticorpos contra células cancerígenas e é a grande aposta do futuro

Durante décadas, os médicos possuíam três armas principais para combater o câncer: cirurgia, medicamentos quimioterápicos e radiação. Porém, na última década, a comunidade científica avançou significativamente no caminho em direção à compreensão da patogênese da doença. A cura definitiva para todos os tipos de tumores ainda não é algo concreto, porém a imunoterapia passou a se apresentar como um tratamento promissor, com respostas muito positivas aos pacientes oncológicos.

A imunoterapia retira os freios do sistema imunológico para aumentar a resposta de combate às células cancerosas
Créditos: wildpixel/istock
A imunoterapia retira os freios do sistema imunológico para aumentar a resposta de combate às células cancerosas

De forma simplificada, essa abordagem terapêutica usa o próprio sistema imunológico do indivíduo para reconhecer e combater melhor os tumores.

Combater quaisquer sinais que representem ameaças à saúde é papel do nosso sistema imunológico, porém, esse mecanismo de defesa possui freios que impedem uma resposta exagerada e perigosa para o próprio organismo.

Quando, contudo, ocorre uma falha nesse processo de combate ao inimigo, a medicação imunoterápica pode ser adotada para inibir a ação desses freios e provocar a resposta necessária para combater as células malignas.

“As nossas células de defesa comportam-se como drogas extremamente específicas contra as células malignas. A concepção da imunoterapia é permitir com que o próprio organismo realize um tratamento altamente personalizado que havia sido iniciado, porém interrompido por mecanismos inibidores presentes nas células malignas”, explica o oncologista Alexandre Jácome, do Grupo Oncoclínicas.

Dessa maneira, o uso dos imunoterápicos visa despertar um sistema imunológico que foi adormecido pelo tumor.  “Ao fazer isso, o sistema imunológico volta a reconhecer o tumor como um agente externo, e realizará uma resposta extremamente específica, e, consequentemente, de elevada eficácia”, afirma o médico.

Em que casos a imunoterapia é indicada?

Apesar de proporcionar uma nova esperança, esse tipo de tratamento não ajuda todo paciente com câncer. Os melhores resultados até agora alcançados foram no combate aos cânceres de pulmão, bexiga, melanoma, estômago e rim. Estudos atestam ainda a eficácia no tratamento de um subtipo do câncer de mama, chamado triplo negativo, e de Linfoma de Hodgkin, um câncer hematológico grave.

Imunoterapia mostra bons resultados em casos de câncer de pulmão, bexiga, melanoma, estômago e rim
Créditos: Mohammed Haneefa Nizamudeen/istock
Imunoterapia mostra bons resultados em casos de câncer de pulmão, bexiga, melanoma, estômago e rim

De toda forma, o tratamento tem demonstrado boas perspectivas para tratamentos de cânceres metastáticos e que não respondem às medicações convencionalmente indicadas, tais como quimioterápicos e drogas alvo-moleculares. Outra característica observada é que a imunoterapia funciona muito bem em casos de cânceres com um grande número de alterações genéticas.

A adesão ao tratamento, porém, vai depender de uma avaliação do oncologista, que irá analisar o tipo, o estágio do tumor e as condições de saúde do paciente.

Vantagens

Uma das principais vantagens da imunoterapia é que ela tem muito menos efeitos colaterais, quando comparados à quimioterapia.

“Por muito tempo, a quimioterapia mostrou-se eficiente na destruição de células tumorais, entretanto, é inegável que ela pode afetar algumas células boas, ocasionando efeitos colaterais. Esses novos tratamentos identificam melhor as células cancerígenas e as destroem, sem gerar ‘reflexos negativos’ ao corpo”, explica o oncologista Marcelo Hajime, da Oncocenter e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Além dos efeitos colaterais menores, o efeito terapêutico da imunoterapia tende a durar mais tempo no organismo.

Para o pesquisador Tasuku Honjo, ganhador do Prêmio Nobel, a imunoterapia será a principal droga contra o câncer no futuro. “Exatamente como aconteceu com a penicilina. Inicialmente, ela não curou todas as doenças infecciosas, porém uma série subsequente de antibióticos finalmente conseguiu banir quase todas as principais doenças infecciosas na nossa sociedade. É isso que espero”, diz Honjo.