O que leva jovens a abrirem fogo em escolas?

Tragédias como as da escola de Suzano chamam atenção para questões emocionais e bullying

13/03/2019 16:15

Ex-alunos abriram fogo em escola e se mataram na sequência
Ex-alunos abriram fogo em escola e se mataram na sequência

O ataque à escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, deixou ao menos 10 mortos nesta quarta-feira (13). Após atirar nos estudantes e funcionários, os atiradores, Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, ambos ex-alunos da escola, se mataram ainda dentro do colégio.

Massacres com armas de fogo em escolas acontecem com frequência nos Estados Unidos. De acordo com a BBC, o ano passado foi o mais mortal em relação a esse tipo de ataque, com 113 vítimas. No Brasil, casos parecidos já aconteceram pelo menos 8 vezes. O mais emblemático foi o de Realengo, no Rio de Janeiro, ocorrido 2011, em que 12 pessoas morreram.  E o que leva jovens a abrirem fogo em escolas?

Um dos atiradores, Guilherme Taucci publicou fotos nas redes sociais pouco antes do ataque
Um dos atiradores, Guilherme Taucci publicou fotos nas redes sociais pouco antes do ataque - reprodução/Facebook

Várias ciências podem especular sobre as causas e motivos que levam jovens a fazer isso. Nesses casos, é necessário traçar o perfil psicológico dos atiradores e entender se sofriam algum transtorno mental psicótico.  Históricos de bullying também são comumente ligados a reações violentas como essa.

O fato de a escola ter sido escolhida como cenário para o crime poderia ser um indicativo da existência de algum problema dos atiradores com o ambiente escolar. Mas, segundo o secretário de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, ainda é cedo afirmar isso, já que ainda  não se conhece o perfil dos atiradores. “Sobre Luiz Henrique, não temos o acesso nem ao histórico escolar. Já sobre Guilherme, conversamos com professores, mas não soubemos de nada que poderia despertar esse comportamento”, afirmou.

Nas redes sociais atribuídas a Guilherme e Henrique, as fotos revelam admiração por armas de fogo. Pouco tempo antes do ataque acontecer, o perfil de Guilherme Taucci havia sido atualizado com 30 fotos em que ele aparecia vestindo a mesma roupa usada no crime.

Em uma das fotos, Guilherme apontava seu dedo para a cabeça, em um sinal de arma. Nas demais, estava com uma bandana de caveira na boca e com uma arma apontando para a câmera.

Guilherme Taucci postou fotos pouco tempo antes do massacre
Guilherme Taucci postou fotos pouco tempo antes do massacre - reprodução/Facebook

A psicóloga Roselene Espírito Santo Wagner busca na Psicanálise uma possível explicação e aponta o bullying como um dos motivos desencadeadores de massacres como esse. “Dentro da teoria psicanalítica, a gente toma como base os extremos e os opostos, lidamos com um mundo paradoxal que nos habita. Geralmente são pessoas fracas e oprimidas que não são vistas pela sociedade, também pessoas que sofrem bullying. Pessoas que estão sempre nos bastidores e nunca são protagonistas. É como se fosse seu último ato. É o momento do fraco se fazer forte. Ele entra com uma cena apoteótica descontando toda dor e invisibilidade.”

Para o filósofo e pesquisador Fabiano de Abreu, que já escreveu diversas teorias sobre temas como bullying e comportamento infanto-juvenil, a solução para se evitar tais tragédias está em casa e na escola. “Essa sociedade “avançada” em que a internet é a companheira inseparável e que o trabalho está à frente da família, a falta de atenção aos jovens coloca em risco suas atitudes”.

Para evitar tragédias como essa, Abreu também defende uma educação socioemocional nas escolas e a presença de mais psicólogos para atendimento individual dos estudantes.