Os alimentos associados a risco 58% maior de depressão
Reduzir o consumo desses alimentos pode ser um passo importante para prevenir a doença e melhorar a qualidade de vida
O consumo elevado de alimentos ultraprocessados pode aumentar em 58% o risco de depressão persistente, segundo uma pesquisa conduzida por cientistas brasileiros e publicada na revista Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics.

O estudo analisou dados de 13.870 pessoas e identificou que aqueles que ingeriam mais produtos desse tipo tinham maior probabilidade de desenvolver quadros recorrentes da doença.
Como os ultraprocessados afetam a saúde mental?
Os pesquisadores apontam que um dos fatores responsáveis pelo impacto dos ultraprocessados na saúde mental é a baixa quantidade de nutrientes essenciais nesses alimentos.
“O alimento ultraprocessado contém pouca fibra, que faz um trabalho fundamental na digestão. Quando esse equilíbrio é alterado, ocorre um processo chamado disbiose (desequilíbrio na flora intestinal), gerando impactos negativos no nosso corpo”, explica Naomi Vidal Ferreira, pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da USP e principal autora do estudo.
Além disso, a disbiose pode causar inflamações no organismo e aumentar a produção de cortisol, conhecido como hormônio do estresse.
“O corpo entende a inflamação como uma ameaça e reage com estresse. O aumento do cortisol também pode afetar o nosso humor de forma negativa, principalmente se isso acontecer por um período prolongado”, acrescenta Naomi.
Reduzir consumo pode diminuir risco de depressão
A pesquisa também indica que diminuir a ingestão desses produtos pode trazer benefícios à saúde mental. Simulações matemáticas mostraram que substituir apenas 5% do consumo calórico diário de ultraprocessados por alimentos minimamente processados pode reduzir o risco de depressão em 6%.
“Uma redução de 10% no consumo resultaria em uma diminuição de 11% no risco, enquanto uma substituição de 20% reduziria o risco em 22%”, destaca a pesquisadora.

Outro ponto levantado pelos cientistas é a acessibilidade desses produtos, que são mais baratos e consumidos principalmente por pessoas de baixa renda.
Diante desse cenário, especialistas discutem a possibilidade de políticas públicas para reduzir o consumo desses produtos. Uma das propostas mais drásticas é aumentar a taxação dos ultraprocessados para torná-los menos acessíveis e incentivar o consumo de alimentos mais saudáveis.
A depressão afeta mais de 300 milhões de pessoas no mundo e é uma das principais causas de incapacidade global, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora o estudo seja observacional – ou seja, não prove causa e efeito –, os resultados reforçam a relação entre alimentação e saúde mental.