Pilates alivia ou apenas esconde a dor nas costas? Especialista esclarece

O pilates é frequentemente lembrado como uma prática eficaz no combate à dor nas costas. Mas será que ele realmente trata o problema ou apenas alivia os sintomas por um tempo?

Para responder a essa dúvida comum, a Catraca Livre conversou com o fisioterapeuta Bernardo Sampaio, diretor clínico do Instituto ITC Vertebral, que fica em Guarulhos (SP).

Alívio ou solução definitiva?

Segundo Sampaio, embora muitas dores nas costas sejam consideradas inespecíficas — ou seja, sem uma causa única e clara —, o pilates é uma abordagem bem fundamentada para tratá-las. “Especialmente na região lombar da coluna”, pontua.

Mesmo nos casos em que há uma origem definida para a dor, como causas mecânicas ou crônicas, o método se mostra eficaz.

“Na grande maioria dos casos, os problemas de dor nas costas podem sim ser tratados com pilates […] Ele é altamente indicado e possui boas evidências para o tratamento dessas dores”, explica Sampaio.

Mas o profissional destaca: a orientação especializada é essencial. O ideal, segundo Sampaio, é praticar o pilates clínico, conduzido por um profissional capacitado no cuidado de pacientes com disfunções na coluna vertebral.

Além disso, estudos mostram que o exercício melhora a flexibilidade, fortalece a musculatura, corrige a postura e auxilia no alívio de dores crônicas.

Quais são os benefícios da prática de pilates?

Os efeitos do pilates vão além do alívio imediato das dores. Bernardo destaca que o método contribui para a mobilidade e a retomada da qualidade de vida.

“O paciente consegue melhorar o condicionamento físico e retomar a realização de atividades do dia a dia”, explica.

Dores crônicas limitam a capacidade funcional das pessoas, então o pilates, quando realizado com a progressão adequada, é uma atividade segura e benéfica para a maioria das pessoas.

Mas ele alerta para o risco de piora quando o exercício não é bem orientado: “não é qualquer exercício que serve: a orientação precisa e individualizada é essencial. […]  É fundamental saber avaliar e entender se o paciente tem condições de ser tratado com pilates e como isso deve ser feito.”

Por isso, durante o processo de reabilitação da dor nas costas, a atividade deve ser usada de forma progressiva, respeitando os limites e a evolução de cada um. 

“Em casos de dor muito aguda, quando o paciente não consegue se movimentar, ou quando há irradiação intensa da dor e sinais de perda neurológica causados por compressão nervosa”, o pilates deve ser adiado. Nesses casos, o tratamento inicial deve começar com a fisioterapia convencional, e a atividade pode ser introduzida mais adiante.

Pilates em casa X Acompanhamento profissional

Embora pareça simples, fazer pilates por conta própria pode trazer riscos, especialmente para quem sente dor.

“A diferença entre praticar pilates por conta própria e com acompanhamento profissional está no fato de que, muitas vezes, certos exercícios ou posições podem ser contraindicados para o momento clínico do paciente com dor”, alerta Bernardo.

Por exemplo, se houver um movimento específico que agrava os sintomas — o chamado movimento X — e o paciente insiste em realizar exercícios que o estimulam, a dor pode piorar.

O profissional é capaz de adaptar os movimentos de forma segura, levando em conta as limitações e necessidades específicas de cada pessoa.

Em quanto tempo o pilates faz efeito?

Quem começa a praticar pilates pode notar melhora já nas primeiras sessões, mas o efeito consistente leva algumas semanas.

“Em geral, essa adaptação muscular começa a ocorrer entre quatro e seis semanas. […] Por isso, recomendamos um período mínimo entre oito e doze semanas para obter resultados mais efetivos e duradouros”, afirma o fisioterapeuta.

Segundo Bernardo, o pilates pode sim substituir tratamentos que não apresentam resultados. “Às vezes, o paciente abandona um tratamento que está sendo ineficaz e substitui pelo pilates, que passa a trazer resultados mais positivos. E isso pode, sim, ser uma escolha acertada.”

“Muitas pessoas recorrem a tratamentos sem comprovação científica para dor nas costas e, naturalmente, não obtêm o resultado esperado. O pilates, por outro lado, já conta com respaldo científico, especialmente no tratamento da dor lombar.”

Contudo, a decisão de abandonar outros tratamentos deve ser feita com responsabilidade. “É fundamental destacar que a reabilitação muitas vezes é composta por diferentes frentes: fisioterapia convencional, pilates, uso de medicamentos”, lembra ele, defendendo uma abordagem integrada sempre que possível e com orientação profissional.

Pilates também pode prevenir dor

Mais do que tratar, o pilates também pode ser uma estratégia de prevenção, pois é um exercício direcionado.

“A partir do momento em que conseguimos melhorar o condicionamento do paciente, ele passa a se movimentar melhor, realizar mais atividades no dia a dia e manter uma boa qualidade de vida. Tudo isso contribui diretamente para a prevenção de dores nas costas.”

A conclusão? O pilates não é um “remendo” temporário para a dor nas costas. Quando praticado de forma correta, com a supervisão de um fisioterapeuta qualificado, ele pode ser uma poderosa ferramenta de tratamento e prevenção.