Poluição de incêndios florestais causa mais de 12 mil mortes por ano

As mudanças climáticas estão amplificando eventos de queimadas em várias partes do mundo.

Por André Nicolau em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
23/10/2024 16:31 / Atualizado em 27/10/2024 14:23

Número de queimadas no Brasil aumentou 150% entre janeiro e setembro deste ano – Divulgação/TV Brasil
Número de queimadas no Brasil aumentou 150% entre janeiro e setembro deste ano – Divulgação/TV Brasil

Em 2024, o Brasil foi mais uma vez alvo de incêndios florestais devastadores, especialmente durante os meses de agosto e setembro.

Metade desses incêndios ocorreu na Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, que sofreu com a destruição de 381 mil km² – uma área superior ao tamanho do Japão. Entre janeiro e setembro deste ano, o número de queimadas no Brasil aumentou alarmantemente, atingindo 150% a mais que o mesmo período do ano anterior.

Esses incêndios não são isolados. As mudanças climáticas estão amplificando os eventos extremos em várias partes do mundo. Em 2019 e 2020, a Austrália enfrentou incêndios que não só consumiram vastas áreas, mas também causaram a morte ou deslocamento de cerca de três bilhões de animais, de acordo com estimativas da WWF.

Poluição dos incêndios florestais

O impacto das queimadas vai além da destruição da biodiversidade e da liberação de gases de efeito estufa. A saúde humana também está sendo diretamente afetada. Um estudo recente, publicado na Nature Climate Change, revela que a poluição causada pelas queimadas, intensificadas pela crise climática, pode ser responsável por 12 mil mortes adicionais todos os anos.

Pesquisadores japoneses lideraram este estudo que concluiu que o aquecimento global está aumentando o risco de morte por inalação de fumaça tóxica em regiões como a Austrália, América do Sul, Europa e florestas boreais da Ásia. Quase cem mil pessoas já morreram anualmente na década de 2010 devido à exposição ao PM2,5 – partículas minúsculas liberadas durante as queimadas, capazes de penetrar profundamente nos pulmões e na corrente sanguínea.

O estudo utilizou modelos de vegetação que simularam as condições climáticas atuais e, para efeito de comparação, também excluíram os efeitos das mudanças climáticas. A conclusão foi clara: o aquecimento global é responsável por 12,8% das mortes ligadas à inalação de poluentes de queimadas.

Fogo e aquecimento global: um ciclo vicioso

O aquecimento global age de diferentes maneiras para intensificar as queimadas. Em algumas regiões, o calor extremo é o principal combustível; em outras, é a seca. Essa combinação cria um cenário propício para incêndios mais frequentes e intensos.

Um outro estudo, também publicado no mesmo dia, aponta que entre 2003 e 2019 o aquecimento global foi responsável por um aumento de 16% na área global queimada por incêndios florestais. Regiões como a Austrália, savanas africanas e até a gélida Sibéria viram suas paisagens consumidas pelo fogo, mostrando que, em um planeta em aquecimento, nenhum lugar está seguro.

A urgência de frear as mudanças climáticas nunca foi tão palpável. O fogo, uma força natural, está sendo transformado em uma ferramenta de destruição por nossas próprias ações. E o preço não é pago apenas em árvores queimadas ou animais mortos, mas também em vidas humanas.