Estes populares remédios aumentam risco de cegueira, diz Harvard

Apesar dos benefícios oferecidos pelos remédios, especialistas chamam a atenção para adversidades

Por André Nicolau em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
27/10/2024 07:00

Remédios populares no mercado farmacêutico como o Ozempic podem aumentar risco de danos à saúde ocular – aniloracru/DepositPhotos
Remédios populares no mercado farmacêutico como o Ozempic podem aumentar risco de danos à saúde ocular – aniloracru/DepositPhotos - aniloracru/DepositPhotos

Recentemente, cientistas de Harvard anunciaram um alerta inédito sobre os medicamentos Ozempic e Wegovy, amplamente utilizados no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade.

O estudo, conduzido por especialistas do hospital Mass Eye and Ear, afiliado à universidade, foi publicado na renomada revista JAMA Ophthalmology e indicou uma descoberta preocupante: um novo risco que ainda não consta na lista de efeitos colaterais desses remédios.

Afinal, qual é o risco?

Os pesquisadores identificaram uma associação alarmante entre o uso dessas medicações e um risco sete vezes maior de desenvolver neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NOIA-NA), uma condição rara que pode resultar em cegueira.

Joseph Rizzo, chefe de Neuro-Oftalmologia do Mass Eye and Ear e professor em Harvard, destacou o aumento significativo no uso de Ozempic e Wegovy em países industrializados, com muitos benefícios evidentes. Porém, ele enfatiza a necessidade de incluir o risco de NOIA-NA nas discussões médicas, especialmente por se tratar de uma condição rara, mas grave.

Por que esses 2 populares remédios aumentam o risco de cegueira? 

A NOIA-NA ocorre quando o fluxo sanguíneo para o nervo óptico é interrompido, causando danos irreversíveis e perda de visão. A cegueira é indolor, mas pode se agravar em poucos dias, e atualmente não há tratamento eficaz para revertê-la.

A pesquisa teve início em meados de 2023, após três casos de perda visual súbita em usuários de semaglutida (princípio ativo do Ozempic e Wegovy) ocorrerem em uma única semana. Embora a condição seja rara — afeta cerca de 10 pessoas em cada 100 mil —, o evento foi suficiente para despertar a atenção dos cientistas.

Foram analisados dados de mais de 17 mil pacientes atendidos ao longo de seis anos no Mass Eye and Ear. Desses, 710 tinham diabetes tipo 2 e 919 eram tratados para obesidade, sendo comparados os que usavam Ozempic ou Wegovy com pacientes que faziam uso de outros medicamentos. O estudo apontou uma incidência significativamente maior de NOIA-NA entre os usuários das duas medicações.

O que mostram os resultados? 

Entre os pacientes diabéticos, 8,9% dos que utilizavam Ozempic desenvolveram NOIA-NA, enquanto apenas 1,8% dos que tomavam outros medicamentos foram afetados, representando um risco ajustado 4,28 vezes maior.
Entre os obesos, 6,7% dos usuários de Wegovy desenvolveram a condição, contra apenas 0,8% dos que usavam outras medicações, um aumento ajustado de risco 7,64 vezes.

Embora o estudo seja observacional, não estabelecendo causa e efeito direto, os achados são suficientes para levantar um sinal de alerta e sugerir mais pesquisas em uma população maior e mais diversa.

Posição dos fabricantes

Em meio à repercussão sobre o assunto, a farmacêutica Novo Nordisk, responsável por ambos os medicamentos, reafirma seu compromisso com a segurança dos pacientes e ressalta que leva a sério todos os relatos de eventos adversos. A empresa destacou ainda que a NOIA-NA não consta entre os efeitos colaterais conhecidos dos medicamentos à base de semaglutida.

Apesar de preliminares, as descobertas abrem uma nova dimensão para ser avaliada nas consultas médicas, sobretudo para pacientes com histórico de problemas oculares ou perda de visão significativa.