Por que é tão difícil para as mulheres saírem de um relacionamento abusivo?
Entenda por que é tão difícil para algumas mulheres deixarem relacionamentos abusivos e como o apoio psicológico pode ser fundamental nesse processo
Encerrar uma relação prejudicial não se trata apenas de vontade ou lógica: há um emaranhado de sentimentos e mecanismos psíquicos em jogo.
Ainda que a consciência aponte que aquele vínculo faz mal, existem camadas mais profundas — emocionais e inconscientes — que mantêm muitas mulheres presas a relações que machucam.

Por que é tão difícil terminar um relacionamento abusivo?
Deixar um relacionamento abusivo envolve muito mais do que um simples “adeus”. É um processo que exige romper padrões internalizados ao longo da vida, muitos deles invisíveis.
Segundo levantamento recente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 37,5% das mulheres que permaneceram em relações danosas apontaram o medo da solidão, a baixa autoestima ou a esperança de que o parceiro mudasse como os principais motivos para não romper.
Esse dado revela mais do que estatísticas — mostra como o apego emocional opera de forma silenciosa, mas poderosa.
Apegos que dificultam o rompimento das relações
Há relações marcadas por um cuidado que vem com limite. O controle aparece mascarado de zelo, e a mulher, pouco a pouco, vai perdendo espaço para decidir por si mesma.
Quando o parceiro se coloca como alguém que “sabe o que é melhor”, essa atitude é confundida com proteção. E o que parecia afeto vira vigilância, moldando um tipo de vínculo que aprisiona em nome do amor.
Além disso, muitas mulheres carregam, desde cedo, experiências de abandono e rejeição que fazem com que o silêncio de estar só seja visto como algo ameaçador. Permanecer ao lado de alguém, mesmo que esse alguém machuque, parece menos assustador do que enfrentar a solidão.

Em contextos assim, migalhas de afeto podem adquirir um valor desproporcional. A autoestima fragilizada distorce a percepção de merecimento: o pouco que se recebe vira muito.
Há também a dependência da admiração. Algumas relações se sustentam a partir do reforço constante que o parceiro oferece: elogios, validações, comentários que colocam a mulher num pedestal.
A princípio, isso pode parecer positivo. Mas quando essa admiração vira a única fonte de reconhecimento, o espelho emocional que deveria fortalecer começa a aprisionar. A mulher passa a existir quase exclusivamente pelo olhar do outro.
E, em meio a tudo isso, há o peso do costume. Quando a relação tóxica se prolonga, o sofrimento se mistura ao cotidiano, e aquilo que machuca também vira parte da rotina. Mudar parece uma ameaça, e o que é familiar — mesmo que doa — oferece uma estranha sensação de estabilidade.
O que fazer nesses casos?
Sair de uma relação abusiva, portanto, vai muito além de uma decisão prática. Exige olhar para dentro, entender por que se aceita menos do que se merece e, principalmente, reconhecer a própria história com honestidade e compaixão.
Não é sempre o agressor que prende. Às vezes, o que paralisa são os próprios fantasmas — antigos, silenciosos, mas muito reais.
Recomeçar é um processo de retomada. Não para agradar alguém, mas para voltar a si mesma. Para construir, com firmeza, um amor que não machuca: o próprio.
Se você se reconhece em alguma dessas situações, falar com uma psicóloga pode ajudar a compreender seus sentimentos com mais clareza e dar os primeiros passos para retomar o controle da própria vida. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza — é um ato de coragem e cuidado consigo mesma.